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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Leituras no Metro - 293

Lisboa: Parsifal, 2017

Há uns meses, vi este romance numa livraria e fiquei com vontade de o ler. É sobre o assassinato do comunista Manuel Domingues, em 1951. Lembro-me de ouvir falar muitas vezes deste assunto quando era miúda.
Manuel Domingues foi um operário vidreiro da Marinha Grande. um dos fundadores do PCP naquela vila e um dos organizadores da greve do 18 de Janeiro de 1934. Depois da greve, fugiu para Espanha, estudou na Escola Leninista de Moscovo, combateu do lado republicano na Guerra Civil de Espanha e esteve na Resistência em França. No final de 1944 voltou a Portugal e entrou na clandestinidade. Já aqui tinha estado entre 1937 e 1938, integrando a direção do PCP, encabeçada por Pavlov. A partir de 1945 fez parte do Comité Central. Em 1949 entrou em dissidência com o partido, devido à expulsão de uns militantes da Marinha Grande, o que veio a revelar-se o motor para o seu assassinato no pinhal de Belas, em maio de 1951. O PCP acusou-o de provocador e de estar feito com a PIDE.
Ao que me lembro, o seu processo da PIDE desapareceu após o 25 de Abril. Carlos Ademar baseou-se no processo da Polícia Judiciária para escrever este livro.
Este livro (cujos personagens têm nomes levemente distorcidos dos reais) não é um grande romance, mas gostei de o ler porque percebi alguns meandros desta história.

Manuel Domingues pouco antes da sua morte.
Diário de Lisboa, 5 maio 1951

«No início da tarde de 5 de maio de 1951. Num apartamento pequeno e triste localizado na […] Damaia, sentada num banco de cozinha, Mariana lia o Diário de Lisboa daquele dia. Sobre a mesa à sua frente, além de uma máquina de escrever, repousava o Diário de Notícias da véspera, que nada de relevante lhe trouxera, como, aliás, os que comprara nos dias anteriores. A mulher andava preocupada com o desaparecimento de Miguel e procurava alguma explicação nos jornais, falta de outras fontes. 
«[…] Desde 18 de abril que não sabia de Miguel, dia em que pela última vez entrou naquela casa para a visitar, bem como ao filho. 
«[…) Mariana tinha uma convicção forte: aquele desaparecimento misterioso não podia deixar de ter algum tipo de ligação ao estado de espírito deprimido em que Miguel se encontrava. […) No partido as coisas não corriam bem e era uma situação que se arrastava desde os primeiros meses de 1949.» (p. 38-39)

3 comentários:

Miss Tolstoi disse...

Lembro-me desta história. Talvez não fosse mau procurarem o processo de Manuel Domingues em Moscovo.
Bom dia!

bea disse...

Esses é que eram os verdadeiros comunistas. Fartaram-se de sofrer pela causa.

MR disse...

Miss Tolstoi,
May be...

Bea,
Verdade.
Mas neste caso, parece que Manuel Domingues só queria deixar de viver na clandestinidade e ir para o estrangeiro com a família: ele devia ter um cancro de estômago e o filho (uma criança de dois anos) tinha asma.

Bom dia para as duas.