Prosimetron

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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pensamento ( s )



(...) Camões está prestes a sair do activo, esvai-se e cai no esquecimento. Já não seremos um povo de líricos, dentro de pouco tempo. Navegamos na Internet e não mais além da Taprobana. Tenho pena. Camões foi para mim uma dificuldade amável, gostava de dividir as orações nos Lusíadas, como se divide a risca do cabelo : escrupulosamente. Foi um parente que nos fez sombra pelo que tinha de rico, formoso e infinito. Agora é mais um profeta no desemprego. " Costuma ferir a sombra aos que cantam ", disse Vergílio. Por isso os poetas serão sempre maltratados pelos que na sombra vivem.

- Agustina Bessa , in Caderno de Significados, Guimarães, 2013.

5 comentários:

ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ana disse...

Lamentável, não é?

Ainda se ensinam os Lusíadas mas de uma forma menos formal da focada por Agustina Bessa-Luís. Também os estudei assim. Gostei de os estudar mas não me lembro da divisão das frases.

Gostei especialmente de ver o tipo de rima utilizada.
Boa tarde. :))

Anónimo disse...

É preciso saber ler o pensamento de Agustina. Mas muito sabem ler, mas não compreendem o que está escrito para lá do que está escrito.

ana disse...

Caro anónimo,
Quanto ao "Camões está prestes a sair do activo", julgo que não pois ensina-se na escola. Da melhor maneira? Não sei. "

"Navegamos na Internet e não mais além da Taprobana". É um facto que é limitativo porque apesar de estar à mão de muita gente, procura-se apenas o que interessa e não se lê na íntegra.
Quanto "aos que na sombra vivem", só vivem na sombra se quiserem.

Falta o contexto destas palavras mas, possivelmente, Agustina faz um paralelismo com a poesia que hoje se escreve (uma possibilidade), livre, sem métrica e sem o classicismo; poderá criticar quem quer retirar os Lusíadas do ensino nas escolas, algo grave (outra possibilidade).

Porque não traz a sua ideia?
Talvez ilumine quem esteja a ver uma só parte. (Atitude saudável).
Boa tarde e só vive na sombra quem quer.


Miss Tolstoi disse...

Dividíamos tantas orações (diziam que para compreendermos a 'história') que a maioria das pessoas ficou a odiar "Os Lusíadas". Não foi o meu caso, mas odiava aquelas malditas orações.
Senti-me amplamente compensada com a sua poesia lírica.