Prosimetron

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domingo, 27 de setembro de 2015

«A criada antiga»

Da série inglesa Dowstairs, upstairs.

«“O criado antigo na casa é o complemento, a extensão desta querida e terna unidade da associação humana, que se chama família. É a família excluindo o sangue, é a família de adoção, é a família viajante, temporária, anual, a família com ordenado, se assim quereis que lhes chame; mas é a família muitas vezes tão ligada, tão desinteressada, tão devotada à nossa estima, aos nosso interesses, à nossa consideração, que todo o nosso sentimento é pouco para lhes pagar a sua dedicação. E até mesmo a sua perpetuidade na nossa casa é apenas um pequeno sinal de reconhecimento às provas de fidelíssima amizade de tão fiéis servidores.”
Estas palavras ditas pelo grande Lamartine têm a par de um alto sentimento de justiça, a revelação duma alma nobre que sabe compreender bem o quanto vale uma dedicação e uma amizade.
Infelizmente as suas ideias já pouco se podem afeiçoar à vida de hoje. Já são raras as casas que têm ao seu serviço esses servidores leais e amigos, que transitaram da casa dos nossos pais para a nossa, e que aguardam pacientemente ali que chegue a sua última hora, para entre lágrimas sentidas os irmos deixar na sua derradeira morada, envolvendo na nossa profunda saudade, a lembrança querida do amigo que perdemos.»

Baronesa X - «A criada antiga». Modas & Bordados, Lisboa, 6 jul. 1932

Sem palavras!, mesmo num texto escrito em 1932. :)

4 comentários:

João Mattos e Silva disse...

Fui ver quem era a directora em 1932 e vi que era Fernanda Vasconcelos Guedes Pavão. Como a Modas e Bordados pertencia ao jornal "O Século", a senhora seria casada com alguém da família dos donos. O conceito, por muito que isso nos choque agora no séc. XXI era mesmo esse - criada na casa da família, daí "criada"- que ficava de geração em geração até à morte, sem vida própria, vivendo a vida da família. Mas muitas lá namoravam o magala ou o polícia ou o marçano e saiam de lá para casar. A curiosidade está no facto de O Século ser de uma família intrinsecamente republicana (embora tenha aderido ao Estado Novo), o que demonstra que pouco distinguia as concepções sociais de republicanos em "talassas" (tidos como reaccionários) nesses já tão longínquos tempos.

Miss Tolstoi disse...

Até pensei que este texto era escrito pela Maria Filomena Mónica. :-)

MR disse...

JMS,
Eu sei, mas achei graça ao texto. Agora que a Baroneza X - esqueci-me de ir ver se este pseudónimo está identificado - diga que era «a família com ordenado», quando se sabe que muitas destas pessoas trabalhavam para ter dormida e comida...

Miss Tolstoi,
Não foi nada que não me tivesse passado pela cabeça. :-) Que essa dama vive no século XIX.

M,Franco disse...

Nem comento o texto!
Recordei a série Downstairs, upstairs que adorava
ver. A extraordinária qualidade inglesa.
A música e algumas imagens dos actores.
https://youtu.be/CSPacDUm5dk
Boa noite.