Prosimetron

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Leituras no Metro - 265

Má trad.  deC ristina Rodrigues e Artur Guerra.
Alfragide: Asa, 2016


Visão - «Somos hoje filhos, ou talvez netos, do Iluminismo…
A.P.-R . - «A nossa boa parte sim. A parte má vem das sombras, da barbárie, do medievo… A liberdade de falarmos, de nos vestirmos como queremos vem daí, desses homens. Devemo-lo às Luzes.

Visão – «O filósofo alemão Jürgen Habermas dizia que a modernidade, que começou aí, é um projeto inacabado. Mas não sente que estamos numa espécie de beco sem saída?
A.P.-R . - «A modernidade será sempre inacabada, nunca se cumprirá. É um caminho frustrado. Sou muito pessimista. Acho que já chegámos onde podíamos ter chegado e agora estamos em declínio. Creio que o ser humano já não alcançará o nível de liberdade, intelectualidade e cultura que alcançou a partir do fim do século XVIII e ao longo do século XIX. O caminho está fechado. E a memória faz, hoje, muita falta… Sem referências, sem História, não podes entender o presente. Em vez de construirmos sobre as nossas pegadas estamos a construir sobre… nada. Estamos desorientados. […]

«A barbárie e a violência estão sempre aí. O problema, o grande erro, foi acreditarmos que esta espécie de Disneylândia onde vivemos era o mundo real. Eu sabia, outros sabiam, mas muita gente falava só de um mundo ideal, dos direitos humanos universais, de ser solidário.

Visão – «Está a falar, também, de uma crise nos discursos sobre a multiculturalidade e globalização…
A.P.-R . - «Sim, claro. O mundo é um sítio perigoso, cheios de filhos de puta. O terrível é que o Ocidente e tudo o que custou tanto a construir ao longo dos séculos, liberdades e direitos, com os bons e nobres valores de que falam os protagonistas do meu romance, está a morrer,a desaparecer… E não voltará. Os jovens ignoram-no. Nem se ensina nas escolas…

Visão – «Porquê?
A.P.-R . - «É uma cultura de facilidade. Temos medo de traumatizar os meninos com a Iíada, ou com a História… O objetivo principal passou a ser não haver insucesso escolar, e nivela-se tudo muito por baixo.»

Arturo Pérez-Reverte, em entrevista à Visão, 16 set. 2016

2 comentários:

bea disse...

Li esta entrevista com muito interesse. Concordo com o escritor, matar a história e o esforço escolar é matar a cultura que importa preservar e sem ela não somos verdadeiros humanos, talvez não passemos de uns humanóides.

MR disse...

Estou a ler o livro e estou a gostar muito.
Bom dia!