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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A Virgem da Anunciação de Antonello da Messina

A Virgem da Anunciação de Antonello da Messina (1430 – 1479), conhecida por L’Annunciata di Palermo, sobressai claramente na vasta tradição artística deste tema litúrgico cujas primeiras interpretações remontam à antiguidade romana. Sobressai de tal maneira que vários historiadores de arte puseram em causa que este retrato representasse de facto a anunciação segundo o evangelho de São Lucas.

Pintores e escultores que se dedicaram à imagem da anunciação ao longo dos séculos seguiram um padrão praticamente uniformizado e criaram assim “taxonomias” iconográficas. A falta dessas contribuiu muito para as dúvidas acerca da Anunciação de Palermo: uma rapariga jovem em primeiro plano, um pouco sedutora até, e nada mais. Sobretudo a ausência do anjo parecia ser prova bastante para que historiadores como Federico Zeri (1921 – 1998) negassem a existência de uma anunciação.  

Um estudo realizado em 2015 pela Universidade de Palermo sintetizou num vídeo os detalhes mais importantes que se escondem por detrás desta obra. Giovanni Taormina, coordenador técnico-científico deste estudo, conclui que este quadro nos mostra a Virgem da Anunciação. Maria, tendo ultrapassado o temor inicial com a aparição do anjo, é retratada com uma expressão de serenidade ao receber a mensagem divina. Assim sendo, o anjo encontra-se ou diante da Virgem ou mesmo no seio de Maria. Com uma intuição invulgar, o artista poderá ter pretendido reduzir o anjo a uma parte da própria Virgem.

O manuscrito que também gerou um grande mistério no passado contém o Magnificat, como comprova o “M” na abertura do texto. Alguns vestígios das letras a preto evidenciam frases iniciais do latim “anima mea Dominum, et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo”.

A Annunciata di Palermo inicia uma nova forma de interpretar o tema da Anunciação. Antonello da Messina revolucionou a abordagem ao criar na Virgem a única protagonista, conferindo-lhe feições delicadíssimas, olhos escuros e profundos e um rosto de uma pureza fascinante. O olhar de Maria fixa-se num ponto algures no infinito ou dirige-se a quem queira admirar esta magnífica obra de arte do pintor siciliano.



Antonello da Messina, l'Annunciata, ca. 1475, Palazzo Abatellis, Palermo

3 comentários:

bea disse...

Que triste me parece esta virgem da anunciação; serenamente resignada e não resplendente por ser a mãe de um salvador anunciado. O resto é o dito pelos estudiosos do caso.

Maria disse...

Não conhecia, mas gosto desta representação de Maria, de olhar algo apreensivo com o que lhe é anunciado...
Grata pelo quadro e pela explicação.
Bom dia.

MR disse...

Também não conhecia.
Bonita. Tem um ar humano.
Bom feriado!