Prosimetron

Prosimetron

sábado, 28 de março de 2009

Santa Teresa de Ávila

Santa Teresa de Ávila, ou Santa Teresa de Jesus, nasceu em Gotarrendura (Ávila, Espanha) a 28 de Março de 1515, tendo falecido em Alba de Tormes, a 4 de Outubro de 1582. Ficou famosa pelas suas obras místicas e pela reforma da Ordem do Carmelo.


Bernini - O êxtase de Santa Teresa, 1647-1652
Roma, Igreja Santa Maria da Vitória


VIVO SEM VIVER EM MIM

Vivo sem viver em mim
e tão alta vida espero,
que morro por não morrer
.

Vivo já fora de mim,
depois que morro de amor,
porque vivo no Senhor,
que me quis só para si.
Meu coração lhe ofereci
pondo nele este dizer:
Que morro por não morrer.
Esta divina prisão
do amor em que hoje vivo,
tornou Deus o meu cativo
e livre meu coração.
E causa em mim tal paixão
Deus meu prisioneiro ver,
que morro por não morrer.
Ai, que longa é esta vida!,
que duros estes desterros!,
esta prisão, estes ferros
em que a alma está metida!
Só esperar a saída
causa em mim tanto sofrer,
que morro por não morrer.
Ai, que vida tão amarga,
Sem se gozar o Senhor!,
Porque, se é doce o amor,
Não é a esperança larga.
tire-me Deus esta carga,
pesada a mais não poder,
que morro por não morrer.
Somente com a confiança
vivo de que hei-de morrer,
porque, morrendo, o viver
me assegura minha esp’rança.
Oh morte que a vida alcança,
não tardes em me aparecer,
que morro por não morrer.
Olha que o amor é forte:
vida, não sejas molesta;
pra ganhar-te só te resta
perder-te, sem que me importe.
Venha já a doce morte,
venha já ela a correr,
que morro por não morrer.
A vida no alto activa,
que é a vida verdadeira,
até que seta não nos queira,
não se goza estando viva.
Não me sejas, morte, esquiva;
Só pla morte hei-de viver,
que morro por não morrer.
Como, vida, presenteá-lo,
o meu Deus que vive em mim,
se não perdendo-te a ti,
pra melhor poder gozá-lo?
Quero, morrendo, alcançá-lo,
pois só dele é meu querer:
que morro por não morrer.

Santa Teresa d’Ávila
In: Antologia da poesia espanhola do Siglo de Oro / trad. José Bento. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993, vol. 1, p. 123-124

7 comentários:

ana disse...

Estive muito tempo sentada em frente a esta escultura belíssima de Bernini!
É linda como tudo que ele esculpiu. Um dia destes coloco talvez, a Daphne e Apolo.
O poema também é bonito

MR disse...

Esta escultura é das mais belas que conheço - é deslumbrante!
E a poesia de Santa Teresa de Ávila é belíssima. Falo no geral.

LUIS BARATA disse...

Sempre achei um tema muito interessante este dos êxtases místicos.

MR disse...

Amanhã porei outro, também belíssimo.

Anónimo disse...

Tem razão MR, esta escultura é deslumbrante não só pelo trabalho de escultura, mas também, pelo simbolismo, pela beleza e pelo movimento que dela emana.

A.R.

Gabriela Gois disse...

Lindo poema que tornou-se canção na voz de Giuni Russo.

http://www.youtube.com/watch?v=tbvktQ_IkHY&feature=related

MR disse...

Desconhecia. Obrigada pela informaão. :)