Não sei se já conhecem a polémica, que começou em 2007, mas acho que tem todo o interesse pelo enquadramento geral: as relações entre o poder e a arte. Ainda em 2007, Nicolas Sarkozy declarou que não considerava que La Princesse de Clèves fosse considerado uma obra que devesse ser lida pelos candidatos ao concurso de attaché d' administration, uma das vias para o ingresso na administração pública francesa, houve reacções e ele calou-se. No ano passado, o Presidente-Rei voltou ao ataque considerando o livro "obsoleto".
Evidentemente, é a opinião dele, que vale o que vale, e neste particular vale pouco, mas ainda assim causou "ondas de choque ", até porque conhecendo-se o temperamento dele seria de admitir que banisse a obra-prima de Madame de La Fayette da esfera pública.
Ora, a verdade é que aconteceu precisamente o contrário do que se esperava: uns por antisarkozysmo começaram a comprar e a ler o livro, e outros por mera curiosidade fizeram-no também. E o resultado foi que as várias editoras que o publicam viram as vendas aumentar de forma surpreendente: um exemplo é o da Livre de Poche, cuja edição vemos acima, que de 6000 exemplares vendidos em 2007 passou para 20.000 em 2008...
Paralelamente, é hoje possível ver em Paris pins e autocolantes onde se lê Je lis La Princesse de Clèves.
Eu gosto bastante desta pequena obra-prima da literatura sentimental, porque a corte dos Valois é um período fascinante da história francesa, e sobretudo porque o francês do séc.XVII é magnífico ( pensem nas maravilhosas cartas da Sevigné por exemplo ) .
Dei por mim a pensar o que aconteceria se o nosso Cavaco Silva se pronunciasse declarando obsoletas as Viagens na minha terra...
2 comentários:
Acho que também vou reler a "Princesa de Clèves".
Quanto ao "nosso" Cavaco, aprece-me difícil que se pronunciasse sobre um livro que não deve ter lido - talvez a Maria lhe tenha feito um resumo.
Também não me parece que Sarkozy tenha lido o livro da Madame de La Fayette. Aqui há dias li uma notícia que referia que ele dantes passeava os livros na mão - devia dar-lhe "caché" - e que agora já lia qualquer coisinha... Mas daí à "Princesa de Clèves".
O Dr. Cavaco deve ter lido tanto esse livro como ouviu Mozart nas "várias" idas a Salzburgo e "várias" visitas à casa do compositor. E quanto a Sarkozy acho que chamar-lhe Presidente - Rei é ofender os presidentes e os reis
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