Prosimetron

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

4 de Fevereiro - 2

1961: Início da luta armada em Angola. Revolta em Luanda, com ataque à Casa de Reclusão, ao quartel da PSP e à Emissora Nacional. Há 50 anos!...

Adriano Correia de Oliveira musicou e interpretou este poema de Manuel Alegre.


NAMBUANGONGO MEU AMOR


Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima do nosso tempo.
Ai tempo onde a palavra vida rima com a palavra morte
em Nambuangongo.

Manuel Alegre

DIUTURNITAS EXTERNI MALI

De sorte que se acendiam na mata
as lâmpadas de bolso dos guerrilheiros
estando eu sentado numa pedra, a 500 metros
do referido local, com uma espécie
de cão tristeza enrolado aos pés,
e a noite: o rumor das estrelas
caindo a prumo na vegetação,
enquanto dos lados de Muxaluando
uma brisa aponta aos lábios secos
e morre devagar
pela garganta abaixo.

Fernando Assis Pacheco

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