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quarta-feira, 14 de março de 2012

Candidatos à Presidência

No próximo dia 18 de Março, cabe à Assembleia Federal (Bundesversammlung) eleger o sucessor (ou sucessora) de Christian Wulff que renunciou ao cargo de Presidente da República da Alemanha a 17 de Fevereiro. De acordo com as previsões, esta Assembleia, composta dos deputados do Bundestag e de membros de vários sectores da sociedade civil alemã, por sua vez enviados pelos parlamentos estaduais, votará a favor de Joachim Gauck, pastor luterano, de 72 anos, dissidente do antigo regime comunista da RDA e responsável pela entidade que abriu os arquivos dos antigos serviços secretos (STASI) ao público no início dos anos 90. Gauck que perdera as eleições contra Wulff em 2009, parece agora poder reunir o consenso dos diversos quadrantes políticos.


Há dois dias, surgiu uma nova candidata ao mais alto cargo político: Beate Klarsfeld. Não-partidária, concorre pelo partido „Die Linke“ que, na sua concepção política, agrupa muitas das ideias comunistas do antigo (e único) partido da Alemanha Oriental.
Klarsfeld já foi apresentada nesta plataforma em duas ocasiões: em Outubro de 2010, Luís Barata apresentou-nos o livro „La traque des Nazis: de 1945 à nos jours“ da autoria de Beate e Serge Klarsfeld, um relato de uma vida notável deste casal, dedicada à captura de altos dirigentes nazis que, ou se refugiaram, ou ocuparam posições de destaque na sociedade alemã do pós-guerra.
O outro post sobre Klarsfeld data de Junho de 2009 e recua ao ano de 1968. Aquando do congresso do partido dos democratas cristãos em Berlim ocidental, o chanceler de então, Kurt-Georg Kiesinger, foi alvo de uma bofetada em público, dada por Klarsfeld, na altura, uma jovem estudante de 29 anos desconhecida e pertencente a uma geração nova que repudiava políticos e funcionários com um passado nazi. Kiesinger, membro da NSDAP, exercera um cargo importante no Ministério dos Negócios Estrangeiros durante os anos quarenta. Este acto inédito tornou Klarsfeld imediatamente famosa e dividiu a opinião pública alemã. O escritor Heinrich Böll ofereceu-lhe um ramo de rosas em sinal de solidariedade. Seu colega, Günter Grass, criticou o incidente afirmando que “tanto não seria necessário”.


O resultado da eleição de domingo dará pouca margem a surpresas. Quer Gauck, quer Klarsfeld, simbolizam duas épocas da história contemporânea alemã. Com objectivos diferentes um do outro, têm em comum o facto de não pertencer ao establishment político e económico donde provieram os dois últimos Presidentes da República que não concluiram o seu mandato.

Imagens: Joachim Gauck (72 anos); Kurt-Georg Kiesinger após a "bofetada"; Beate Klarsfeld (73 anos)

2 comentários:

ana disse...

Muito interessante Filipe!
Domingo saberemos, não é?
Boa noite!:)

João Menéres disse...

Não haverá uma certa contradição entre o Die Linke , onde se apoia a candidata Klasfeld, e as duas obras por ela escritas ?