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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Leituras no Metro - 992

Lisboa: Temas e Debates: Círculo de Leitores, 2017

Foi o primeiro livro de Catherine Merridale que li, que escolheu para epígrafe desta obra uma citação de N. K. Krupskaia, mulher de Lenine: «Deve contar-se toda a verdade, a verdade nua e crua, às massas, sem medo de que a verdade as assuste e afaste.»
Gostei, parece-me uma historiadora imparcial, tanto quanto se pode ser em relação a um personagem como Lenine. 
Merridale fez esta viagem cem anos depois, quando certas linhas de comboio desapareceram ou foram alteradas. 
Em abril de 1917, Lenine saiu de Zurique a 9 de abril, atravessou a Alemanha em guerra (com a ajuda das autoridades deste país) e chegou a Haparanda onde foi metido num comboio selado, tendo chegado à estação Finlândia em Petrogrado a 16 de abril. Churchill, anos mais tarde, escreveu a este respeito o seguinte: «Temos de tomar plenamente em consideração as apostas desesperadas em que os líderes de guerra alemães já estavam empenhados. Todavia, foi com um sentimento de pavor que viraram contra a Rússia a mais sinistra de todas as armas. Transportam Lenine num vagão selado, como um bacilo da peste, da Suíça para a Rússia.» (cit. p. 18).

«Neste momento, há quase tanta instabilidade no Planeta como existiu no tempo de Lenine e um conjunto ligeiramente diferente de grandes potências continua a trabalhar arduamente para garantir a sua supremacia no topo. Uma técnica que utilizam nos conflitos regionais, uma vez que o envolvimento militar direto tem tendência para custar demasiado, é ajudar e financiar rebeldes locais, sendo que alguns estão no terreno, mas outros têm de ser colocados lá precisamente como aconteceu com Lenine. […] A história do comboio de Lenine não é propriamente exclusiva dos soviéticos. Em parte, é uma parábola sobre a intriga das grandes potências e uma das regras, aí, é que as grandes potências quase sempre interpretam mal as coisas.» (p. 19)

4 comentários:

APS disse...

Há quem defenda que foram os alemães que tomaram a iniciativa de "empurrar" Lenine (e o seu pacifismo) para a Finlândia e, posteriormente, para a Rússia, numa estratégia para vir a libertar a frente Leste (através da cessação das hostilidades) e poderem concentrar-se no ataque na frente ocidental.
Continuação de boas férias.

LUIS BARATA disse...

Toda a razão APS , não há dúvida até pelas facilidades concedidas pelos alemães. E a estratégia resultou , mas muito além do que os alemães esperqvam ...

Rui Luís Lima disse...

Em tempos vi uma série realizada pelo cineasta italiano Damiano Daamiani, precisamente sobre esta viagem de Lenin ("Il treno di Lenin"-1988), com Ben kingsley no protagonista, onde acompanhamos os preparativos e depois a viagem, com a respectiva "intriga", que lhe estava associada.
Muito boa tarde!

MR disse...

APS e Luís,
Nem tudo se controla.

Mister Vertigo,
Não sabia dessa série. Obrigada pela dica.

Bom fim de semana para todos.

P.S. - Houve um percalço com a colocação deste comentário. O seu a seu dono. :)