Prosimetron

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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Citações



(...) Quando fomos viver para o Banzão, tínhamos tantos caixotes de livros num armazém que não arranjámos, durante um ano inteiro, coragem para os transferir para as estantes da nova casa.
No meu escritório, fiquei com três grandes estantes vazias. Fui enchendo-as de tudo o que queria guardar, desde livros novos a pedrinhas da praia, máquinas fotográficas, pinturas, frascos de perfume, flores , latas de bolachas, cadernos, canetas e todas as tralhas do dia-a-dia.
Foi maravilhoso dispor de tantas superfícies para ocupar. Estava tudo à vista e à mão. Desde o princípio, tratei as estantes como composições, mudando os materiais até ficarem como eu queria. Depois passei por uma fase em que me diverti a ver os resultados estéticos da acumulação aleatória.
Era bom estar rodeado das coisas que me iam acontecendo. Ajudava-me a escrever. Dava-me vontade de ir enchendo também o écran do computador de palavras apanhadas de sítios diferentes da minha cabeça.
Agora tenho todas as estantes ocupadas e os livros parecem-me presos, sem saberem pedir socorro.

- Miguel Esteves Cardoso, no Público da passada Sexta-feira.

2 comentários:

MR disse...

Sei bem o que é «os livros parecem-me presos, sem saberem pedir socorro». :) Por isso já tirei muita cangalhada para dentro de armários. E mesmo assim... :(
Boa tarde!

bea disse...

Gosto quase sempre do que o Miguel escreve.