Prosimetron

Prosimetron

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Em Macau à procura de Camilo Pessanha


Onde foi a casa do poeta
agora é um pátio de escola em que brincam crianças
e tem à frente um baloiço
e lá atrás duas árvores. 
Na esquina da rua com o seu nome
um mendigo serrazina a sua viola
e o som alonga-se chorado, 
chora e perde-se devagar
nas outras ruas que levam 
à Travessa do Pagode, 
à porta da loja onde ainda o espera 
o amigo antiquário Ah-Men. 

Já ninguém sabe o destino 
do cachimbo com que inventava
paraísos e princesas
ou sereias, com seus cantos, 
músicas e campos de liliáceas, 
cores de mil maravilhas 
ao mundo que bem sabia 
que era mais o daquele mendigo 
àquela esquina para a Sam Má-lô 
e a sua viola chorando 
pela moeda de meia pataca 
que também eu me esqueci de deitar 
na tigela que tinha ao lado. 

Pedro da Silveira
In: Corografias. Lisboa: Perspetivas & Realidades, 1985.

3 comentários:

Cláudia Ribeiro disse...

Se assim é, é de lamentar, mas não de estranhar!
Pois poucas são as casas de escritores que são preservadas por não serem valorizadas.
Pelo menos, a de Camilo Pessanha tem crianças a brincar...

bea disse...

Um poema limpo a recordar Camilo Pessanha e um lugar a que pertenceu. Que pouco há quem hoje lembre o poeta.

MR disse...

Bom fim de semana para as duas.