Prosimetron

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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Com o Outono, começa a época dos concertos...


“…Como eu disse o público era normal. Oitenta por cento saíra dos hospitais da cidade com alta temporária; a bilheteira dera prioridade às alas de pneumologia e otorrinolaringologia. Reserve agora para arranjar um lugar melhor, se tiver uma tosse de 95 decibéis… O allegro da abertura correu bastante bem: dois ou três espirros, um caso sério de muco compacto a meio do balcão, que quase necessitou de intervenção cirúrgica, um relógio digital e uma quantidade de virar de páginas do programa…”
“É difícil saber qual a atitude a tomar, não é? Deve passar-se o mesmo com os músicos. Se ignoram os sacanas da bronquite, arriscam-se a dar a impressão de que estão tão embrenhados na música, que é tossir o que se quiser que eles nem dão por nada. Mas se tentam impor a autoridade… Vi o Brendel largar as teclas a meio de uma sonata de Beethoven e lançar um olhar enfurecido na direcção do culpado. Mas o sacana provavelmente nem nota que está a ser repreendido, enquanto nós, os outros, começamos a ficar inquietos, sem saber se o Brendel ficou mesmo perturbado, ou coisa assim…”

Julian Barnes, “A Mesa Limão”, contos, 2004, “Vigilância”, Asa, 1ª edição 2008.

1 comentário:

Anónimo disse...

Da última vez que Keith Jarrett veio tocar a Lisboa não o fui ver porque tive medo que começasse o concerto de tosses e que ele abandonasse o palco, como o fez de outra vez que veio a Lisboa.
Há dias, assisti a um facto insólito: um maestro tossiu ou espirrou (já não me lembro). Até teve graça. Um colaborador deste blogue também assistiu.
M.