Prosimetron

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terça-feira, 21 de abril de 2009

As Voltas Que as Vidas Dão, Mário Jorge Branquinho.

Numa ida à Biblioteca Municipal de Coimbra cruzei-me com um livro que estava pousado num escaparate. Folheei, li e transcrevi este poema por ter que ver com o quotidiano mais vulgar.

As Voltas Que As Vidas Dão

Frequentemente debruçamo-nos à janela do mundo e verificamos a galopante forma como tudo se transforma. Em nome de inúmeros princípios, ditados ao abrigo de várias consciências, rasgam-se novos horizontes, que vão para além da clara normalidade de um dia-a-dia entre regras. Dessa janela por onde espreitamos frequentemente, o mundo surpreende-nos.
Médicos a contas com receitas;
professores a somar horas;
políticos a contar pelouros e presenças;
juízes a ditar sentenças;
jornalistas a contar peças e advogados a debitar custas;
pedreiros a prtir pedras à hora, Rokeiros a tocar ao
milímetro e alfaiates ao metro;
padres, bancários e banqueiros a contar dinheiros;
Engenheiros a assinar e arquitectos a dar para assinar,
Prostitutas a acenar;
Gente a trabalhar e meio mundo a descansar;
Comerciantes a negociaar sobrevivências; operários a
sobreviver e a descontar; economistas a poupar, gestores a controlar
catrões a mandar vir, para além dos pintores que criam novas fantasias e dos poetas e romancista que alinham novos textos para o negócio, onde se fala do capitalismo, dos ricos cada vez mais ricos, dos pobres cada vez mais pobres, dos poucos senhores do mundo e dos muitos que engrossam as filas do desemprego, do mundo cruel, do fim do socialismo, do comércio livre, da globalização, da concorrência, das falências dos antigos sistemas, do fim das ditaduras e do êxito das coisas moles, do uso dos telemóveis, do domínio da informática e das novas autoestradas da informação, dessa tal que dá pelo nome de internet; dos fanáticos religiosos, dos fundamentalistas e dos terroristas, para além dos grandes papistas e outros que tais neste tal mundo em constante mudança e em descrença, sem fé e em crise.
E eu para aqui a dizer mal de mim e dos outros, nesta janela por onde espreito, na fúria de escrever e no exercício de agitar, reflectir e descontraidamente, no intuito de ver as voltas que a as vidas dão.

Mário Jorge Branquinho, O Mundo dos Apartes, Seia: A Voz de Azeméis, 2002, p.44-45.

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