O equilibro entre os personagens do libretto traduz-se na escolha dos papéis musicais: o elenco principal constitui-se por um soprano (Maria), meio-soprano (Elisabetta), um tenor (Roberto), um barítono (Cecil) e um baixo (Talbot).
A música de Donizetti manifesta, de forma geral, um domínio extraordinário do vocabulário melódico do Romantismo. No caso concreto de Maria Stuarda, destacam-se as melodias de árias que permitem antever as composições de Verdi. A entrada de Elisabetta no sexteto do segundo acto “È sempre la stessa” reproduz-se no “Miserere” de Leonora no “Il Trovatore”. A configuração deste sexteto parece ser ainda fonte de inspiração para um conjunto semelhante em “Nabucco”.
A música de Donizetti manifesta, de forma geral, um domínio extraordinário do vocabulário melódico do Romantismo. No caso concreto de Maria Stuarda, destacam-se as melodias de árias que permitem antever as composições de Verdi. A entrada de Elisabetta no sexteto do segundo acto “È sempre la stessa” reproduz-se no “Miserere” de Leonora no “Il Trovatore”. A configuração deste sexteto parece ser ainda fonte de inspiração para um conjunto semelhante em “Nabucco”.
Tal como na versão de Schiller, Maria Stuarda vive o seu apogeu no encontro e confronto entre as duas rainhas que, de acordo com investigações históricas, nunca terá ocorrido. Donizetti opta por submeter a música ao dramatismo da situação, em vez de compor um simples dueto convencional. Resultado: a cena transborda de expressividade musical. Mais uma referência musical, já que Verdi recorre a este exemplo nos seus confrontos entre Aida e Amneris, ou entre Gioconda e Laura.
A história da 46ª ópera de Donizetti é infeliz. A estreia prevista no Teatro di San Carlo napolitano foi antecedida de um ataque de divismo, vivido intensamente pelas duas protagonistas: Giuseppina Ronzi de Begnis (Maria) e Ana del Serre (Elisabetta) perderam o controlo, quando Maria (Giuseppina) inicia o seu “Vil bastarda” e Elisabetta (Ana) leva tal exclamação muito a peito , esquecendo-se do enquadramento meramente fictício – o palco do teatro torna-se assim palco de uma batalha física entre as duas senhoras… O ensaio geral, assistido por membros da corte real, termina desastrosamente para Donizetti a quem é proibida a exibição da ópera. O compositor recompõe a ópera, Pietro Salatino reformula o libretto de forma mais ou menos violenta. “Maria Stuarda” é rebaptizada em “Buondelmonte” que se estreia finalmente a 18 de Outubro de 1834.
O Scala de Milão promete melhores dias, uma vez que o elenco conta com Maria Malibran, a soprano mais aclamada da época. A cantora, fragilizada por uma indisposição, não actua na estreia milanesa, e a récita terá, segundo o testemunho de Donizetti, resultado num enorme fiasco. Malibran recupera, a censura impõe todavia alterações à versão existente, entre elas, a supressão do Vil bastarda. Passariam mais de 130 anos sobre esta catástrofe na história do Scala, até que Maria Stuarda viria a ser retomada nesta casa.
Contudo, a ópera não desapareceu por completo das temporadas operáticas: realizaram-se produções, em versões mais ou menos adaptadas, em vários teatros de Itália, Espanha e no S. Carlos de Lisboa. Mas uma récita desastrosa no S. Carlo de Nápoles em 1866 viria a expulsar Maria Stuarda provisoriamente do rol de óperas representadas.
Contudo, a ópera não desapareceu por completo das temporadas operáticas: realizaram-se produções, em versões mais ou menos adaptadas, em vários teatros de Itália, Espanha e no S. Carlos de Lisboa. Mas uma récita desastrosa no S. Carlo de Nápoles em 1866 viria a expulsar Maria Stuarda provisoriamente do rol de óperas representadas.
A primeira récita do século XX realiza-se em Bergamo em 1958, cidade natal de Donizetti. A partir deste momento, Maria Stuarda viria a encantar o público pelo mundo fora, em produções aplaudidas em Estugarda, Florença, Nova Iorque, Edinburgo, Londres ou Nápoles, em que intervieram nomes como Leyla Gencer, Montserrat Caballé, Joan Sutherland e Beverly Sills no papel de Maria, bem como Shirley Verrett, Huguette Tourangeau e Eileen Farrell como Elisabetta.
Fonte: Ópera de Zurique
Imagens: Escócia (Highlands); Harriet Walter (Elizabeth) e Janet McTeer (Mary) na produção do Broadhurst Theater (Broadway), 2009; Maria Stuarda, produção do La Fenice de Veneza em 2009; cartaz oficial da produção de Maria Stuarda da Ópera de Zurique em 2002
5 comentários:
Bravo! Ou não fosse um post operático :)
Belíssimo post.
Obrigada por me dar algumas informações que não conhecia.
Ana
Adorei este recordar da história em torno da Maria Stuarda e em especial a do ensaio geral no teatro napolitano... “Vil bastarda”. Estou a imaginar a cena e a rir, a bom rir!
Sim, deve ter sido delirante.
Só faltou uma morte para o drama ficar completo.
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