Prosimetron

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quinta-feira, 14 de abril de 2011

A nossa vinheta


http://populo.weblog.com.pt/arquivo/idxnvaljube.jpg

O Aljube, antiga cadeia, encerrada em Agosto de 1965, reabre hoje para uma exposição:

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Cela 13
As paredes medem só
inteiriçado corpo no chão
Morrem, ao cabo, em quilha de barco
- Ventre vazio de um porão
na solidão de charco.
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Luís Veiga Leitão
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«No meu tempo era utilizado o velho Aljube, ex-convento e ex-prisão de mulheres, defronte da Sé, de arquitectura maciça e quase tão vetusta como esta [Caxias].
«Dividiram uma grande sala em pequenas celas, cerca de vinte. Eram os ‘curros’, como lhe chamávamos. Isoladas das janelas por largo corredor. Com portas duplas, sem luz eléctrica até à década de 60, tinham uma curiosa característica. Transformavam um dia de sol numa penumbra cinzenta. Pelo meio da tarde era noite lá dentro. Procuravam-se os objectos aos apalpões de cegos.
«De paredes altas, eram muito estreitas. Um homem não podia estender os braços. O comprimento variava. Havia aquelas onde só o leito cabia, com os seus três passos correspondentes, às intituladas ‘duplas’, para dois ‘hóspedes’ e com oito ou nove pessoas.
«Os móveis eram uma curta tarimba com uma enxerga de dois dedos de palha mal cheirosa; uma almofada do mesmo material, e duas mantas incrivelmente sujas. E por uma tábua onde se colocavam as roupas e alimentos e por onde passavam as baratas.
«Quanto a utensílios, davam apenas um copo de lata e um escarrador pequeno, que era também cinzeiro.»

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José Magro
In: Cartas da prisão: 1. Vida prisional. 2.ª ed. Lisboa: Ed. Avante, 1975, p. 21-22. (Col. Resistência)

5 comentários:

APS disse...

Gostei. E lembrei-me também de um poema, bonito, em que Veiga Leitão fala de uma bicicleta.

MR disse...

Gosto da poesia do Veiga Leitão. Talvez procure esse poema e o coloque. :)

ana disse...

Venho felicitar a escolha da vinheta!
Já felicitei noutro post porque pensei que era de MR.

Miss Tolstoi disse...

E depois da exposição, qual vai ser o futuro do Aljube? Sabe?

MR disse...

Parece-me que o espaço foi entregue à associação Não Apaguem a Memória! para fazer um espaço museológico e expositivo.