Prosimetron

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Recordando um poeta

 






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LIVRO DE HORAS
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais,
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.



Para o JAD




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Me confesso de ser charco
E luar de charco, é mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser um monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!


Miguel Torga
Morreu em 17 -1-1995


5 comentários:

João Menéres disse...

Pensei que era uma postagem da ANA !...

João Mattos e Silva disse...

Desculpe, mas não percebo porquê.Por Miguel Torga ser uma referência cultural de Coimbra? Por ser oferecido ao JAD, que tem estudado e publicado sobre Livros de Horas?

ana disse...

Não JMS,
Porque saiu no (IN)Cultura ontem ou anteontem. :))
Beijinho para os dois.

João Mattos e Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Mattos e Silva disse...

Que coincidência! Um beijinho, Ana.