Prosimetron

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Vitorino Nemésio, poeta


 

Tenho uma Saudade tão Braba

Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.

Vitorino Nemésio,


 in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
Morreu em 20 de Fevereiro de 1978

3 comentários:

Anónimo disse...

Poema simultaneamente belo e angustiante.
Ortega Y Gasset definiu Vitorino Nemésio como " Um homem que transporta uma ilha".
Boa Tarde,
ACV.

ana disse...

O poema é muito bonito.
Quem passou pela Horta, local onde fez estudos, percebe bem este poema.
Gostei muito do post.
Obrigada. :)
Boa tarde.

ana disse...

A foto não é da Horta mas a lembrança maior que tenho dos Açores é do Faial e do Pico. Na Terceira passei sem estar. :)