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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Madre Paula, ou uma historieta histórica

Gosto de romances históricos ou, mesmo, de biografias romanceadas. E caio imensas vezes na tentação de comprar "obras" desse género, porque conheço mal a época em que se desenrolam e a  "petite histoire" que lhe está associada ou muito pouco sobre uma determinada personagem. Acredito sempre - santa ingenuidade a minha - que quem se abalança a escrever sobre uma época ou uma personagem, fará investigação, conhecerá a época em que situa a acção e, por isso, não dirá enormidades com a desfaçatez de quem acha que basta publicar e por isso passar pelo crivo do editor, para ter produzido um best seller.
Durante muitos anos o romance ou biografia históricos caíram em desuso em Portugal. De há uns dez, vinte anos para cá, têm-se multiplicado exponencialmente. E diria que não há candidato a escritor que não tenha pensado em escrever livros desse género literário e que, muitos, se têm abalançado nessa empresa. Têm tido algum mérito, convenhamos, ao trazerem para os escaparates das livrarias factos, tempos e pessoas portugueses.
 
 
O meu pouco conhecimento sobre a mais importante amante de D. João V, e o facto de há um ano ter visitado o Convento de Odivelas onde viveu, levou-me a comprar " Madre Paula, mulher de Deus, amante do rei" de Patrícia Müller, licenciada em Ciências da Comunicação, autora de "novelas, filmes, séries e telefilmes" como se pode ler na breve biografia na badana do livro, publicado pela Asa.
A escrita, em si, nem é boa nem má, o conhecimento da época em que decorre a vida da célebre freira é menos mau atendendo a alguns factos históricos que refere ou às falas atribuídas ao Rei, sobre política interna e externa, mas parece haver um total desconhecimento sobre o ambiente da Corte, nomeadamente o tratamento dado ao soberano: Majestade para duas linhas abaixo o tratar por Alteza Real. Tratamento antecedido de Sua, quando se lhe dirige, o que em Portugal e pelo menos Espanha e França, nunca se usou Ou o tratamento dado ao Papa , Excelência e mais abaixo Santidade. Ou o anacronismo de se referir ao soberano, na voz de Madre Paula que é a narradora, como D. João V ou, pior ainda, o Magnânimo.
Palacete de Madre Paula em Odivelas, arrasado em 1949
 
Já não falo do auto-retrato que Madre Paula faz de si própria: mesquinha, perversa, de mau carácter, vingativa e todos os mais defeitos que se possam imaginar. E dos relatos crus dos actos sexuais variados, mais próprios de uma romance erótico - e alguns são mais recatados -ou de uma versão nacional do Kama Sutra.
Há outra amante de D. João V sobre a qual, para além da biografia essencial, pouco sei: a menos célebre Flor da Murta - D. Luísa Clara de Portugal - de que conheço, por fora o Palácio, na Rua do Poço dos Negros. Li que saiu recentemente uma biografia romanceada. Mas confesso que estou a hesitar em comprá-la. Gato escaldado de água fria tem medo.

6 comentários:

APS disse...

Não posso deixar de admirar a sua boa vontade, porque eu raramente a tenho para com estes (as) historiadores-romancistas de pacotilha destes tempos. Mas, em relação à "Flor da Murta", não quero deixar de citar uma quadra bonita, que a lenda atribui a D. João V:
"Flor da murta,
raminho de freixo,
deixar de te amar
é que eu não deixo!"

ana disse...

JMS,
Interessante a sua crítica.

Já leu o livro: As Amantes de D. João V de Alberto Pimentel?
Tenho na pilha para ler.
Obrigada pela partilha.
Boa noite!:))

MR disse...

Eu folheei este livro e não me aventurei a comprá-lo. Pensei que um dia talvez o requisitasse numa biblioteca municipal, mas agora não me parece que o venha a fazer.
Em tempos, li A Flor da Murta de Rocha Martins.

MR disse...

Quando folheei o livro tb li que Patrícia Müller é autora autora de "novelas, filmes, séries e telefilmes" e, na altura, pensei que um dia destes temos a Madre Paula na televisão.

João Mattos e Silva disse...

Já li, há muitos anos, "As amantes de D. João V", de Alberto Pimentel e gostaria de ler a "Flor da Murta", de Rocha Martins, mas só se for a uma biblioteca. Pensei que, ingénuo, este livro sobre a Madre Paula, viesse acrescentar alguma coisa. Afinal errei.
Não é só uma quadra, APS. Continua com:

Morrer sim
Mas deixar-te não.
Oh! Flor da Murta
Amor do meu coração.

Oh! Flor da Murta
Do meu coração,
Deixar d' amar-te
Ai não deixo, não.
Bom dia a todos!

MR disse...

JMS,
Requisite numa biblioteca pública. Eu agora requisito imensos livros nas bibliotecas: o espaço é pouco; escuso de encher a casa de livros que nunca mais lerei; e comprar grandes porcarias.
Bom dia!