Prosimetron

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sábado, 8 de novembro de 2008

A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA - 5

" (...) É neste sentido que não se pode confundir uma experiência autêntica com aquisição informativa. Valoriza-se, então, o imediato, o contacto de onde nasce a expressão, considerando a multiplicação de intermediários como sinal de endurecimento, de esclerose, de insensibilidade, numa época em que as mediações progridem na sua vigência universal, multiplicando-se e dissimulando-se sob as imagens da imediatez, como sempre os espectros, enviados da morte, fizeram por relação à vida. Hofmannsthal, como Goethe, um século antes, exige que se reconheça de novo ao espírito o direito de se colocar imediatamente diante das coisas.
Sendo assim, trata-se de fazer a apologia do «estar de fora» , da «inactualidade» , sem permitir que a resistência ao presente seja convertida em propósito nihilista ou em solipsismo auto-suficiente. Isso parece-me ser próprio daquele que se dedica à filosofia: distanciar-se, procurar por si próprio, tentar desvendar os enigmas que encontra. Aqui, o perigo reside em embriagar-se com esse distanciamento e conhecer apenas a forma heróica dolorosa, que é reconhecível em Platão, mas que só em Nietzsche encontrou o único representante fiel. Para vencer esse perigo, teremos , então, de chamar em nosso auxílio a mais antiga tentativa de superação dessa procura solitária: a experiência do eros. "

- Maria Filomena Molder, Apologia da inadaptação-5, in A IMPERFEIÇÃO DA FILOSOFIA, Relógio D'Água Editores, 2003.

2 comentários:

Anónimo disse...

Coloca aqui mais um desafio. Descodificar a imperfeição da Filosofia. Acho graça a estes seus desafios.
1.MFM parece-me afirmar que só através da experiência se chega ao conhecimento sólido. Será?
Nem sempre isto é possível, pelo menos nas ciências sociais. Nestas só se pode partir da observação de multiplos casos e fazer uma análise estatística com probabilidades e possibilidades.
2. O nihilismo e solipsismo coloca o Eu como o actor principal do conhecimento e só a sua imagem do mundo é que se reverte em conhecimento. Não sei se estou a fazer uma boa interpretação, mas parece-me redutor, daí a imperfeição, será?
3. " (...) embriagar-se com esse distanciamento" julgo que a autora coloca ao leitor o perigo que é uma visão solitária do mundo. Contudo, penso que nunca nenhum conhecimento é fruto de uma atitude solitária, uma vez que se parte sempre do que se leu e do que se conhece, não obstante essa visão ser baseada em escolhas e preferências...
4. "A experiência do eros". Bom, pelo que me lembro, eros será possivelmente a procura da perfeição, da beleza e da integridade que é o que a filosofia procura. Deveria reler O Banquete de Platão para perceber melhor isto do Eros.
Será que aqui eros significa o amor pela sabedoria, pela beleza?
Este desafio é para se ir pensando. Eros era o deus grego do do amor. Porém, não faz sentido falar aqui do amor entre os humanos.
Está a faltar-me a lucidez por isso, vou terminar.
A.R.

LUIS BARATA disse...

Concordo com grande parte da sua interpretação. Quanto à importância do eros, vejo-a mais como a experiência amorosa que salva o filósofo do perigoso distanciamento, do distanciamento em excesso.
O último parágrafo desta passagem é para mim brilhante, descreve bem aquilo que deve ser a atitude filosófica.