Prosimetron

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pintar a solidão - 8

Neste Mulher ao balcão , de Karl Gustav Carus, datado de 1824, pressentimos uma vez mais, como tantas vezes acontece, a solidão aliada à melancolia. A solidão de uma viúva, ou de uma mulher que perdeu o seu filho?
O próprio pintor, discípulo e amigo de Caspar Friedrich, era um ser solitário e ainda hoje pouco se sabe dele. Sabe-se, no entanto, que no seu atelier estava sempre a gravura Melencolia I de Dürer...

3 comentários:

Anónimo disse...

Espectacular!
A beleza da paisagem e os olhos perdidos na paisagem ou no vazio fazem do quadro um bom momento.
Obrigada.
A.R.

Anónimo disse...

Envio um poema de Al Berto porque é um poeta que se identifica com a solidão.
Estudou pintura na École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels (La Cambre), em Bruxelas mas, em 1971, decidiu abandonar a pintura e dedicou-se à escrita.

NOTAS PARA O DIÁRIO

deus tem que ser substituído rapidamente por poemas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de acabar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu coração, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

a dor de todas as ruas vazias.

pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lisboa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no cimo do mastro, e mandar arrear o velame.

é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem cadastro.
a dor de todas as ruas vazias.

sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas...e nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

a dor de todas as ruas vazias.

Al-Berto
Horto de Incêndio
Assírio & Alvim
3ª edição - Dezembro 2000

Anónimo disse...

Voltei porque fui espreitar a "Melancolia" do Dürer. Já conhecia.
É uma gravura, de 1514, muito rica em detalhes simbólicos.
Passei no Guggenheim de Bilbao, estava lá uma exposição do Dürer, não pude ver porque estava quase a fechar. Limitei-me a comprar o catálogo. Tive imensa pena.
A.R.