Prosimetron

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sábado, 28 de novembro de 2009

COMO O CORAÇÃO

Tudo o que dizemos e fazemos
passa por esses momentos violentos do corpo,
onde os desejos vêm beber como os animais cansados
chegam aos grandes rios originários das nossas fundações.
Que memória consentir então aos corpos,
que lugar deserto às paixões, que curso
ao nosso descer o rio?

Tu não me respondes. Entramos no mais fundo
da pedra, no túmulo preterido, espólio
de um deus acossado, eu estrangeiro, eu esquecido.
Tu ocultas o coração, voltas-te de perfil
para as dunas, a pedra, pedra.
Não me respondes.

Como o coração, dizes.

Luís Filipe Castro Mendes
In: A Ilha dos Mortos
. Lisboa: Quetzal, 1991

Apeteceu-me ler este livro, belíssimo, mas não lhe consegui chegar. Então fui à net, de onde retirei este poema.

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