Prosimetron

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sábado, 28 de novembro de 2009

A.S.: Escolhas Pessoais VIII

Francisco de Aldana

Descendente de uma ilustre família de militares, Francisco de Aldana (1537?-1578) combateu em Itália, Países Baixos e África, ao serviço de Filipe II. Foi, comandando parte do tércio castelhano que apoiou o exército de D. Sebastião, que veio a morrer em Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578.
Com profundas convicções religiosas (Menendez y Pelayo: a julgar pelos seus versos, era, não só platónico, mas também místico.), todavia dotado de um espírito reflexivo e trágico, Aldana é um dos poetas renascentistas castelhanos que mais aprecio.
É notável a sua carta, em tercetos, dirigida ao célebre biblista Arias Montano, e que tem por título Carta a Arias Montano sobre la contemplación de Dios y los requisitos della, escrita em 7 de Setembro de 1577, cerca de onze meses antes de morrer em combate. Desta carta se transcreve um pequeno trecho bastante significativo:

Penso trocar o meu caminho
que segue tão vulgar, ir a direito
em direcção à pátria verdadeira;

entrar no mais secreto do meu peito
questionar no mais íntimo de mim
para onde vou, aonde estou e o que fiz.

E para que o erro nunca mais me assombre
nalgum refúgio alto e solitário
vou sepultar o ser, a vida e o meu nome.

E, como se aqui não tivera nascido
ficar além, qual eco ressoando
a doce voz de Deus, p’la alma ouvida.


Apreciado por Quevedo que lhe quis editar as obras, referido elogiosamente por Cervantes, admirado e estudado por Cernuda, a sua obra teve, porém, fortuna incerta. E ainda hoje a sua figura de poeta militar, a quem os contemporâneos chamavam “el Divino”, divide os estudiosos da literatura espanhola.

[gravura da batalha de Alcácer Quibir]

Em tradução livre, tal como a anterior, aqui deixo um soneto de Francisco de Aldana que é, para mim, um dos grandes poetas castelhanos do sec. XVI.

O ímpeto cruel do meu destino,
como me lança miseravelmente
de terra em terra, de uma a outra gente,
não permitindo a paz no meu caminho!

Oh, se depois de tanto mal, grave e contínuo,
rasgado o véu mísero e dolente
a alma, por um voo diligente
voltasse ao lugar donde partiu!;

iria pelo céu em companhia
da alma d’algum caro e doce amigo,
que na terra sofrera a mesma sorte;

oh! que montão de coisas lhe diria,
tais e tantas, e sem temer castigo
de fortuna, de amor, de tempo e morte !




P.S.: Francisco de Aldana nasceu, muito provavelmente, em Nápoles ou , pelo menos, aí passou a meninice e parte da adolescência.
António Valente (1520-1580), compositor e organista italiano, foi o autor desta “Gallarda (dança espanhola ligeira e alegre) Napolitana”.
São, assim, contemporâneos.
Post de Alberto Soares.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desconhecia este poeta. Gostei do que aqui nos trouxe. Obrigada.
M.

ana disse...

Também desconhecia. Belo post.
Gostei do poeta e do conjunto que arranjou.