Prosimetron

Prosimetron

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Arquiduquesa Regina von Sachsen-Meiningen (1925-2010)


Aqui há dias falava-se em comemorações. Estas, para além do que ensinam através da reflexão que motivam, são também um acto de justiça.

Não se trata de socialmente registar o desaparecimento de Alguém que, mercê de representações políticas extintas mas socialmente presentes, ocupou esta ou aquela posição. Atrevo-me a homenagear aqui uma Pessoa que, nos cinquenta anos de casamento, partilhou activamente uma vida de um verdadeiro Príncipe. Na verdade, soube ontem que tinha morrido a Arquiduquesa Regina, na quarta-feira de manhã.

Não apostando no estafado cliché que aponta para alguém que está por detrás de um grande Homem (sendo certo que, quer esta, quer a consideração inversa são muito falíveis), o Arquiduque Otão de Habsburgo e a Arquiduquesa Regina viveram uma história insólita (no bom sentido) no plano das famílias anteriormente reinantes.

Numa assunção notável das responsabilidades familiares, sem esquecer os povos que compuseram a monarquia austro-húngara (e tão precisados estavam, em especial os que ficaram do lado errado do muro), a Família Imperial, com o seu Chefe à cabeça, incorporou-se no século XX, lutando contra as suas injustiças com as armas que a sociedade democrática proporciona, com a pena e não com a antiga espada, para usar outro cliché.

Adversário do Anschluss e do nazismo, corre o rumor de que o Arquiduque Otão tinha sido um dos beneficiários da acção de Aristides de Sousa Mendes, o que todavia nunca confirmei se era verdade. Mas a ser, era bonito, para quem, simultaneamente, é descendente de D. Pedro IV e de D. Miguel I.

Por voto dos seus novos compatriotas alemães, o Doutor Otão de Hasburgo ocupou durante vinte anos um lugar no Parlamento Europeu, tornando-se uma das suas figuras tutelares. Concorde-se ou não com as suas ideias, pelo menos não há que negar a sua qualidade de grande Europeu e a coerência da sua visão sobre o futuro do nosso continente, assente, como defende na tradição de Coudenhove-Kalergi, nos três montes fundadores, o Gólgota, a Acrópole e o Capitólio.

Filha de um príncipe alemão que morreu prisioneiro de guerra na então União Soviética, a Arquiduquesa Regina partilhou a segunda metade dos 97 anos com que conta hoje o seu Marido, usando um espanholismo, numa vida "exitosa" e nada mundana. Obrigado também por isso.

***

Numa nota pessoal, impressionou-me saber ontem à noite da notícia, quando, nessa mesma manhã, tinha escolhido o opus 76 de Haydn para ouvir no rame-rame do trânsito, lembrando-me especialmente da Família de Habsburgo no segundo andamento do segundo quarteto, o qual, como sabem, é um conjunto de variações sobre o antigo hino imperial, hoje hino da Alemanha.

Junto um trecho de umas exéquias imperiais recentes, com uma adaptação ao Tantum Ergo do dito hino imperial, que me parece muito feliz.


5 comentários:

LUIS BARATA disse...

Na passada segunda-feira realizou-se na Igreja da Encarnação, ao Chiado, a Missa de Sufrágio pelas almas de D.Carlos I e do Príncipe Real, por impedimento de S.Vicente de Fora.
Na homilia referiu-se o celebrante à muito conhecida tradição de inumação dos Habsburgos na cripta dos Capuchinos,Viena, em que só é admitido o falecido quando é dito apenas o seu nome cristão e a sua condição de simples pecador.
Impressionante ouvir relembrar esse ritual fúnebre e dias depois tomar conhecimento da morte da Arquid. Regina.

JP disse...

Mas parece que o corpo não vai para os Capuchinhos, mas sim para a cripta da família de Meiningen.

APS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
APS disse...

Eu, republicano, me confesso que gostei muito do seu post.

ana disse...

Também gostei do seu post!