Prosimetron

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aconteceu há 100 anos (VII)

Pelas 11 horas da noite o tiroteio abrandou, e Ludovina piorou. A rua estava deserta, os candeeiros apagados, e Moisés perscrutava através dos vidros o mistério das trevas, quando os gritos recomeçaram no quarto...
A senhora Júlia lembrou que talvez ele pudesse, agora que tudo estava sossegado, ir à farmácia do bairro e trazer pacotes de algodão e sublimado.
- Se o senhor tem receio, eu chego lá num instante...
-Eu, receio? Vou já... Pode ser até que o farmacêutico saiba dalgum médico ou parteira aqui perto...
Na escada, Moisés pensou no acto de coragem que ia empreender, avançando para o negrume da noite. Começava o seu calvário pelo «Filho», sentia-o bem.
Puxou a gola do casaco para cima, a aba do chapéu para os olhos e, rente às paredes, caminhou apressado... Ao longe, recomeçava a troar o canhão, e Moisés acelerou o passo. Vultos passavam a fugir... A farmácia estava fechada. Bateu, mas ninguém respondeu de dentro... E ia a reflectir: «as revoluções deviam ser todas no campo, e deixarem as famílias sossegadas» quando perto dele o estrondo duma bomba estremeceu o ar.



(Em breve acaba a saga preparada para festejar o centenário, está quase...)

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