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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Heróis da Literatura - 2

Tancredo foi a personagem que escolhi do romance Il Gattopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa por causa da adaptação ao cinema de Luchino Visconti. O filme foi estreado em 1963, ganhou a Palma de Ouro no 16º Festival de Cannes. As personagens principais são: D. Fabrício Corbera, o Leopardo, Burt Lancaster; Tancredi Falconeri, Alain Delon e Angélica Sedara, Cláudia Cardinale.

A história ocorre entre 1860 e 1910, em pleno processo de unificação da Itália, conhecido pelo Risorgimento. O livro começa em Maio de 1860 com a frase «Nunc et in hora nostrae. Amen» “Agora e na hora da nossa morte Amém”, (p. 7 )* que anuncia a decadência da aristocracia italiana e a ascensão duma burguesia endinheirada e detentora de novos valores. De uma forma sumária, a história retrata a família de Fabrício Corbera, o Leopardo (brasão de família), príncipe de Salina (ilha a norte de Sicília) durante as convulsões políticas da unificação de Itália quando Garibaldi desembarca em Marsala.
Ao longo do romance Lampedusa descreve os costumes, a vida faustosa da aristocracia decadente, a beleza, a paixão, o cinismo político, a hipocrisia, a religiosidade, o envelhecimento e a morte.
Da beleza destaco em villa Salina a descrição dos frescos pintados que retratam os deuses do Olimpo em simbiose com a religiosidade católica conferida pela presença constante do Padre Pirrone que acompanhará toda a narrativa.

Palácio de Donnafugata

Donnafugata foi o local (estância de férias) para onde a família de Corbera se refugiou, após o desembarque de Garibaldi e é onde se desenrola o ponto fulcral do filme de Visconti. Apesar da história se passar no segundo quartel do século XIX e princípio do século XX, a abordagem é intemporal por causa do arquétipo psicológico e social das personagens.



Tancredo fora confiado ao tio após a morte dos pais, era proprietário da villa semi-arruinada dos Falconeri e acabou por encantar o príncipe que secretamente o preferia ao primogénito. Tancredo levava uma vida dissoluta, era rebelde e acabou por se aliar à revolução. Há uma frase proferida por Tancredo (e mais tarde dita pelo príncipe Fabrício) que sintetiza as novas mudanças: - “Se nós não estivermos lá, eles fazem uma república. Se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude. Expliquei-me bem?” *(p. 29- 30).

Tancredo apaixona-se por Angélica, filha do burguês latifundiário Don Calogero Sedera. O casamento é combinado por D. Fabrício para assegurar, na mudança, a continuidade do mesmo padrão de vida da velha aristocracia.
Tancredo personificado por Alain Delon assume um perfil apaixonado, ciumento, ambicioso, inteligente que sabe tirar partido da vida passando de guerrilheiro a partidário da política vigente. A valsa de Verdi dançada por Burt Lancaster e Cláudia Cardinale, sob o olhar ciumento de Alain Delon, realça a beleza cénica e a profundidade que Visconti conferiu aos seus filmes e às personagens que construiu.

Parco Museo Letterario del Gattopardo . Espaço onde se pode reviver as cenas de Visconti

Porque é que escolhi um personagem tipo camaleão que se adapta a todas as circunstâncias da vida?
A resposta está na classe de Alain Delon, na riqueza do personagem aparentemente linear e, finalmente, no perfil que adopta o político actual.

*Giuseppe Tomasi de Lampedusa, O Leopardo, Lisboa: Círculo dos Leitores, 1974, p. 7; 29-30.
http://it.wikipedia.org/wiki/Il_Gattopardo_(film)

9 comentários:

LUIS BARATA disse...

Bravo! ( leia-se em italiano :) )

MLV disse...

Também gostei muito. Deu-me vontade de rever o filme. E este dia triste até propicia.

ana disse...

Luís,
Grazie mille!:)

MLV,
Obrigada e um bom momento neste dia triste!:)

MR disse...

O Leopardo (até agora) é o filme da minha vida.
Gosto do romance, mas o filme supera-o. Visconti também é o meu realizador preferido.

Miss Tolstoi disse...

O que é um herói?
Já percebi que é o Alain Delon. Certo! :)
E é o camaleão, o "perfil que adopta o político actual"? :(

Miss Tolstoi disse...

E trata-se de "Heróis da Literatura" ou do cinema?

Miss Tolstoi disse...

Desculpe estas observações, mas estou confusa.

ana disse...

Cara Miss Tolstoi,
Os heróis da literatura podem surgir do cinema, como foi o caso.
Visconti seguiu fielmente o romance de Lampedusa excepto no final, omitindo a morte do príncipe e a situação da família posterior à morte de D. Fabricio.
Heróis da Literatura, tema sugerido por MR, pareceu-me que estaria ligado ao cinema. Pelo menos foi essa a ponte que fiz.
É difícil escolher um herói, para mim foi mais fácil assim.
Finalmente, a pertinência do perfil político por causa da desmoralização da política actual pareceu-me um bom factor a considerar, bem como a permeabilidade do personagem de Lampedusa à realidade italiana ser um bom fio condutor para a minha escolha. :)

ana disse...

Miss Tostoi não coloquei este link porque ele alerta para a existência de fontes insuficientes.

Este texto foi produzido pelo que me ficou do livro e do filme que infelizmente ainda não arranjei.