Prosimetron

Prosimetron

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Heróis da literatura - 1

«É preciso amar, é preciso acreditar…» (Pierre Bézoukhov)

A minha primeira escolha vai para Pierre Bezukhov*, um personagem da obra Guerra e Paz. Acho que já aqui contei que li o livro depois de ver a adaptação que King Vidor fez do romance de Tolstoi, com Audrey Hepburn, Mel Ferrer e Henry Fonda, respectivamente nos papéis de Natasha Rostov, do príncipe Andrei Bolkonsky e de Pierre Bezukhov.
O essencial da acção do livro desenrola-se no primeiro quartel do século XIX, a época de ouro da aristocracia russa, centrando-se nas campanhas da Rússia, de Napoleão, tendo como episódio fulcral da trama a batalha de Borodino.
No início da obra, Tolstoi descreve com grande vivacidade a vida dos nobres da Rússia czarista (as conversas de salão e agitação mundana), nos seus últimos dias de paz. Depois a guerra estala e o colectivo sobrepõe-se aos problemas pessoais de cada um: «Nascimentos, mortes, amores, ambições, ciúmes, angústias, egoísmos, vaidades, é a respiração profunda e calma da humanidade que está diante de nós.» (Henri Troyat - Tolstoi. Paris: Fayard, 1965, p. 371) Os personagens deste romance, e, no geral, de toda a obra de Tolstoi, estão impregnadas de característica humanas universais, movimentando-nos nós no seu meio como no nosso próprio tempo. São estes aspectos do romance que marcam a individualidade da obra, bem como a sua universalidade.
Pierre Bézoukhov é um intelectual, que esteve na Europa e regressa à Rússia muito influenciado pelas ideias da Revolução Francesa. Filho bastardo de um aristocrata - o qual só o reconhece às portas da morte -, é um pacifista e maçon. Míope, desajeitado, ingénuo, indeciso, é uma figura terna, cheia de humanidade. Ele, que à partida nos é apresentado como um falhado, é o único a alcançar a felicidade, ao casar com a voluntariosa e terna Natasha.
Os dois personagens masculinos principais do livro, os dois heróis - o príncipe André Bolkonsky e o conde Pierre Bézoukhov -, são-nos normalmente apresentados como o alter ego do autor, o desdobramento (a dualidade) da sua personalidade, nas suas contradições. Não são as únicas personagens em que a dualidade está presente. E que dizer do título da obra?
Audrey Hepburn e Henry Fonda nos papéis de Natasha e Pierre.


Escritório de Tolstoi em Iasnaia Poliana, onde escreveu Guerra e Paz.


Rumyantsev Museum, em Moscovo (hoje Biblioteca Nacional Russa) onde Tolstoi trabalhava todas as manhãs, em 1866 e 1867 e onde se encontram os manuscritos de Guerra e Paz.
Foto ca 1890-1905.

«Tudo está bem quando acaba bem.»

http://fr.wikipedia.org/wiki/Guerre_et_Paix

Quem será o senhor (ou senhora) que se segue? Tancredo?

5 comentários:

Filipe Vieira Nicolau disse...

Uma nova série muito promissora - com um arranque muito interessante e bem escolhido!

MR disse...

:-)

ana disse...

Adorei MR,
Tenho andado a ler Tolstoi numa vertente diferente do romance. Mas em toda a sua escrita se denota uma alusão aos personagens que criou.
Gostei deste post. Pierre Bézoukhov tem algumas semelhanças com a personalidade de Tancredo que irá aparecer em breve. :)

Miss Tolstoi disse...

Também escolheria o Pierre da "Guerra e Paz", apesar do meu fraquinho pelo príncipe André, quando ele se humaniza. A vida (não a vidinha) tem destas coisas.
Fico à espera das próximas ecolhas.

Miss Tolstoi disse...

ecolhas, isto é: escolhas.