Prosimetron

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domingo, 23 de outubro de 2011

É a crise ... da noção do ridículo

"Já que, ao contrário do acordado com a troika, o Governo se dispensou de eliminar autarquias, as autarquias continuam a existir e a fazer aquilo que fazem melhor: aumentar a "auto-estima" dos munícipes....
...Noutras paragens, a "auto-estima" é insuflada de diferentes maneiras. Em Barcelos, por exemplo, a câmara municipal assinou um protocolo com um cabeleireiro local. Presumo que o estabelecimento ganhe em publicidade. Em troca, oferece serviços gratuitos de coloração, corte, brushing e manicura a pessoas carenciadas do concelho. Segundo a câmara anunciou em comunicado, "este projecto" (na sociedade complexa em que vivemos, falar com o tasqueiro da esquina constitui um "projecto") pretende, lá está, "elevar a 'auto-estima'" e, de brinde, "contribuir para o bem-estar de pessoas afectadas por situações de carência".
Para os que receiam pelo futuro comercial do cabeleireiro em causa, doravante atulhado de miseráveis em busca de renovação estética à borla, devo esclarecer que as ofertas mensais encontram-se limitadas a uma coloração, dois cortes, dois brushing e dois tratamentos de manicura. Além disso, a câmara informa que os beneficiários serão escolhidos entre os "munícipes em acompanhamento pelos serviços de Acção Social" e "em estreita articulação com as entidades que desenvolvem trabalho de âmbito social". Ou seja, uma daquelas mocinhas da assistência social em visita de rotina à pobreza depara com um sujeito desleixado, diz-lhe "Isto não são unhas que se apresentem" ou "Esse penteado passou de moda em 1997" e obriga-o a comparecer no cabeleireiro do "projecto" num prazo de 48 horas."
Alberto Gonçalves
DN -23.10.2011

3 comentários:

MR disse...

Para além do ridículo.
E de quem será o dito cabeleireiro? Eu tb já estou nesta onda.

JP disse...

Não seria tão precipitado no julgamento, mais a mais se (como se diz) não houver pagamento. Lembro-me que há muitos anos visitei uma pequena cadeia, mas assaz problemática. Estava cheia de espelhos, embutidos nas paredes. Perguntei porquê e o director respondeu-me que era a melhor maneira de assegurar a "ordem exterior" e, por essa via, da "interior". E garantiu-me que tinha resultados. Bom domingo!

LUIS BARATA disse...

Uma das coisas que se vai com a perda de auto-estima é o cuidado com a " apresentação ", mas se é para ter as unhas arranjadas, o cabelo à moda e depois voltar para a barraca...