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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Marques Júnior (1946-2012)


Marques Júnior, um político diferente

Conheci Marques Júnior quando este era do Conselho da Revolução. O nome engana, ele já não queria fazer qualquer revolução - já tinha participado no 25 de Abril e no 25 de Novembro - e pelo contrário era dos que aspirava à normalização do país, ou seja, a um país com as suas estruturas políticas civis a funcionar plenamente. 

Era o mais novo daquele órgão, como tinha sido o oficial mais novo a participar no 25 de Abril. 
Na altura, era considerado também um militar afastado da política, da qual desconfiava. Mas as voltas da vida - e, há que dizê-lo, o relativo desprezo com que o país tratou os homens que tinham feito a revolução de Abril e a de Novembro - levou-o a aproximar-se de Eanes e do partido que este lançou, o efémero PRD. Tomou o gosto a ser deputado e prolongou a sua estada no Parlamento, eleito pelo PS, o que aconteceu sempre salvo nas últimas eleições. 
Como deputado, Marques Júnior marcava uma diferença grande em relação à média dos parlamentares. Cumpria a palavra, ia aos locais por onde era eleito (Porto e Viana) e demorava-se a falar com os eleitores. Nesse aspeto tinha o que se pode chamar uma organização militar.
A sua partida toca-me. Sinto que o país teve heróis quase anónimos (as primeiras notícias sobre a sua morte quase se esqueciam de dizer que ele tinha sido um dos homens de Abril). Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vítor Alves e Marques Júnior estão entre eles. Como outros, felizmente ainda vivos, que transformaram radicalmente o país em 1974, derrubando um regime bafiento, anacrónico, totalitário e o veem já há anos comandado por pessoas que ninguém pode admirar. 
A história é madrasta e as revoluções devoram os seus filhos. Por isso é dever de quem com eles privou de vez em quando lembrar aos mais novos que houve homens que arriscaram pela liberdade. Duas vezes - em Abril, contra o regime totalitário de direita; e em Novembro contra um totalitarismo de sinal contrário que também nos quiseram impor. 
Henrique Monteiro
http://expresso.sapo.pt/marques-junior-um-politico-diferente=f776752#ixzz2GjJoHAdM

5 comentários:

APS disse...

A humildade é sempre uma virtude difícil e a discrição uma rara qualidade.
Bom dia, MR!

ana disse...

Um post interessante e muito necessário neste deserto político.
Bom Ano!

ana disse...

Lamento a morte.

Jad disse...

Abril, no seu mais puro!

Miss Tolstoi disse...

Uma triste notícia.