Prosimetron

Prosimetron

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Memórias - 5 de Junho de 1963

1963 foi, seguramente, um dos anos mais memoráveis dos Swinging Sixties no Reino Unido. Os gloriosos Fab Four de Liverpool lançavam o seu álbum “Please, please me” em Janeiro. As notícias do assalto espectacular a um comboio-correio e do roubo de 2,6 milhões de libras, sob a autoria de Ronnie Biggs, corriam mundo em Agosto. E em Junho, rebentava o escândalo mais picante da Guerra-Fria: o “Caso Profumo”.

 A 5 de Junho de 1963, John Profumo, de 48 anos, demitia-se do seu cargo de Ministro da Defesa, intitulado na época “Ministro da Guerra”, bem como das suas funções de deputado da Câmara dos Comuns. Na sua declaração, em vésperas da tradicional parada por ocasião do aniversário da rainha, Profumo lamentava profundamente ter mentido à Câmara. Tinha cometido tal pecado capital em Março, ao afirmar, no parlamento e na presença da sua esposa, a actriz Valerie Hobson, que nada de “incorrecto” tinha sucedido entre ele e uma modelo de nome Christine Keeler. Ameaçara proceder judicialmente contra quem o acusasse de comportamento pessoal ou profissional ilícito, tendo de facto levado a tribunal uma revista francesa e um jornal italiano. 
No entanto, as notícias e os boatos não paravam - para bem dos jornalistas e para mal do governo britânico. A imprensa cor-de-rosa em particular, mas também jornais como o Times, davam conta de indícios de acontecimentos escandalosos na alta sociedade, desde ligações entre políticos e meios criminosos, a espionagem e festas “impróprias” em clubes exclusivos londrinos. Sob toda esta pressão, Profumo acabara então por “confessar”.
À luz dos padrões morais da época, o envolvimento de um ministro casado com uma modelo seria o suficiente para uma demissão. O caso tornou-se porém mais delicado, quando veio a público o facto de Profumo não ser o único admirador de Keeler. A modelo, rapidamente degradada a Callgirl e atributos muito piores pela imprensa britânica, relacionava-se igualmente com o adido naval soviético Jewgeni Iwanow. Dois anos após a construção do Muro de Berlim e poucos meses após a crise na Baía dos Porcos em Cuba, tal facto era entendido como uma ameaça para a segurança britânica e internacional. Espionagem, troca de informações militares secretas, teorias de conspiração e o descuido de um ministro-chave no governo estavam no centro das atenções e preocupações políticas. 

Profumo rendera-se aos encantos de Keeler dois anos antes, quando, numa mansão opulenta do magnata Lord Astor no condado de Buckinghamshire, lhe tinha sido apresentada a jovem de 19 anos. A relação fatal terá, segundo Profumo, terminado poucos meses depois. 
Este escândalo, talvez mítico na perspectiva de hoje, foi explosivo em 1963. Durante semanas, jornais e revistas em todo o mundo devoravam assiduamente as últimas revelações chegadas do Reino Unido que parecia estremecer nos seus alicerces conservadores.

O caso Profumo foi um dos motivos que levaram à queda do governo MacMillan em Outubro desse ano.

O que foi feito dos protagonistas? Profumo mudou de rumo e dedicou-se durante quase 40 anos a causas de beneficência, apoiado pela sua esposa. Pela sua obra notável no East End de Londres, foi condecorado em 1975 com o CBE (Commander of the Order of the Bristish Empire). Morreu em Março de 2006 aos 91 anos. E Keeler? Após o escândalo, foi condenada a 9 meses de prisão por perjúrio. Hoje, vive, sob outra identidade, algures no norte de Londres. Dizem as más-línguas que Keeler se encontra em péssima situação financeira. Em Fevereiro de 2007, subiu ao palco do Greenwich Theatre em Londres o musical “A model girl”, inspirado nos acontecimentos de há cinco décadas atrás.
Keeler recusou o convite de participar na peça.

2 comentários:

ana disse...

O Filipe surpreende-nos sempre.
Gostei muito. Li hoje à tarde, mas só agora aqui pude vir deixar o meu apreço.
Boa noite!:)

Filipe Vieira Nicolau disse...

Muito obrigado, Ana