Prosimetron

Prosimetron

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Prémio PEN 2013 - ex aequo


Estão as praças,
Como ágoras de outrora, estonteadas
Pela concentração dos organismos, 
Pelo uso da palavra, a fervilhante
Palavra própria da democracia,
Essa que dá a volta e ilumina
O que, por um instante, a empunhou

Hélia Correia



INVENTÁRIO PLEBEU
para o José Miguel Silva

A verdade, digam lá o que disserem,
é que tivemos muito pouca sorte
com os poetas (?) nossos contemporâneos.

Um nasceu em Galveias e tatua-se
ou alfineta-se para disfarçar um vazio evidente;
outro gosta de andar nu em Braga,
muito depois - e aquém - de qualquer Pacheco.
(Ignoram, ambos, que a única pila maior
do que o mundo era a do João César Monteiro.)

Um terceiro, cujo nome nunca escreverei,
é a mulher moderna da edição
às cegas e da sacanice quotidiana. O quarto
e o quinto (gabo quem os logra distinguir)
arrotam melancolia e não admitem
o mínimo desvio à sacrossanta transfiguração da lírica.

O sexto - não, não me apetece falar aqui do sexto.

Consola-nos, isso sim, saber que uns se tornaram
entretanto romancistas (pilim,pilim), e que os restantes
hão-de ser, muito em breve, ministros
ou somente pulhas (é, no fundo, a mesma coisa).

Enquanto, de esgoto em esgoto,
Portugal progride a olhos vistos
e é bem capaz de levar, um dia destes,
com outro Nobel nas trombas.

Manuel de Freitas

2 comentários:

João Mattos e Silva disse...

Pois é, MR, estes poemas (?) não têm mesmo comentário possível.

Aguiavoadora disse...

são dois poemas, de certa forma,interesantes para mim.São dois poetas vivos.Hélia Correia,uma senhora que foi premiada,este trecho é de 2012,bem recente e contemporâneo. O outro do rapaz é também contemporâneo mas, ele tende ao clássico.