Prosimetron

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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

«No último dia do ano»...

Lisboa: Edel, 2010

«No último dia do ano, as crianças iam a todas as casas, para cantar canções de Natal e desejar a todos sorte e felicidade; e, mais importante ainda, para recolher frutas e uns poucos centavos para comprar bolachas, figos - e tâmaras, uns frutos estranhos que vinham de África e tinham um sabor muito doce.
«Sempre que José comia tâmaras, pensava no grande, ainda que insensato, D. Sebastião, que desaparecera em Marrocos para não mais voltar. Quase que conseguia ver a sua espada brilhante a deixar um trilho de sangue por entre as nuvens de muçulmanos cruéis…
«As crianças reuniam-se em grupos, escolhendo as suas ruas, da maneira que conseguissem. José, Álvaro, Francisco e Miguel escolhiam escolhiam a zona à volta da praça, a Igreja de Nossa Senhora e a escola.
«Ali viviam homens abastados que tinham voltado da América. Havia duas desvantagens nesta escolha: tinham de visitar o professor e o Padre Corvelo. Ambos seriam muito críticos em relação à sua maneira de cantar, e seriam chamados a entrar para receber uma imagenzinha de um santo, ou, pior ainda, um lápis. Além do mais, não sabiam se o Padre Corvelo não podia decidir comer uma das melhores maçãs que tivessem recolhido.
«As crianças cantavam pelas seis da tarde. Miguel trazia um saco para os presentes; os outros iam atrás.» (p. 111)

Alfred Lewis nasceu na ilha das Flores com o nome de Alfredo Luís. Emigrou para os Estados Unidos da América em 1922. O livro (autobiográfico) conta a vida de um miúdo pobre, José de Castro, na aldeia de Beira (Açores) até emigrar para a América aos dezanove anos, onde se tornou escritor. Nunca voltou aos Açores.

O livro foi publicado, pela primeira vez, pela Random House, em 1951. Só 60 anos depois foi traduzido para português, com um posfácio de Patricia Highsmith e com o patrocínio da FLAD.

3 comentários:

LUIS BARATA disse...

Despertou-me o interesse, ou não gostasse eu de ilhas, dos Açores, e até de Patricia Highsmith :)

João Mattos e Silva disse...

Vou á procura. Fiquei curioso.

ana disse...

Sublinho o que diz o Luís, já vivi numa ilha. Tal como o João também vou procurar este livro. :))