Prosimetron

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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Poemas



Os homens aos quarenta
aprendem a fechar muito devagar
as portas dos quartos a que
não regressam.

Descansam no patamar das escadas
e sentem que elas se movem
como o convés de um navio,
embora quase não sopre um vento.

Vislumbram
ao fundo de um espelho
o rosto do rapaz que em segredo tenta
fazer a gravata do pai.

E o rosto desse pai
ainda quente com o mistério da espuma.
Agora eles mesmos já são mais pais do que
filhos.
Alguma coisa os preenche, algo

que se parece com o som dos grilos
ao crepúsculo, imenso,
enchendo os bosques que ficam aos pés da 
ladeira
e detrás das casas hipotecadas.

- Pedro Mexia , Os homens aos quarenta , in Uma vez que tudo se perdeu, Tinta da China, 2015 .


2 comentários:

MR disse...

Hei de dar uma vista de olhos neste Uma vez que tudo se perdeu.
Bom dia!

ana disse...

O poema realmente bate no fundo.