Prosimetron

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sábado, 9 de novembro de 2019

Um quarto de hotel em Madrid



Não se chega a pertencer nunca a um
quarto de hotel. Não se lhe ganha afecto (não
é nosso por inteiro) se é
certo que amanhã outro dono estará
emoldurado
ao espelho. Não se chega a confiar nele
(não se lhe lega segredos) sequer a
palavra impudica expurgada
da pele
pela toalha de banho. Não chega a
ser nossa a cama (não se molda
a nosso jeito) melhor que
nem te despeças dessa alcova pela manhã
quando sabes como é lesta a
entregar-se ao próximo viandante
por dinheiro.

João Luís Barreto Guimarães
In: O tempo avança por sílabas. Lisboa: Quetzal, 2019