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domingo, 10 de agosto de 2008

NINA SCHENK CONDESSA DE STAUFFENBERG: o atentado e as suas consequências

Claus von Stauffenberg é executado às 0.15h do dia 21 de Julho de 1944, poucas horas após o fracasso do atentado. Hitler sobrevive com ferimentos ligeiros e recebe Mussolini ainda no dia do golpe, para manifestar ao povo alemão que está em plena capacidade de continuar à frente do Terceiro Reich (ver imagem).

Cabe à mãe de Claus, Karoline von Stauffenberg, transmitir a horrenda notícia da morte do filho à sua nora Nina. Em Lautlingen (Sul da Alemanha), onde os von Stauffenberg passam o Verão num palácio, pertença antiga da família, Nina é confrontada com os acontecimentos de forma inesperada. À dor pela perda do marido juntam-se a angústia e o medo das consequências para os filhos.

Na perspectiva de hoje, talvez duas alternativas se afigurem a Nina: ou se decide pela fuga imediata, antes de a Gestapo a encontrar, ou aceita a situação e permanece em Lautlingen. Opta por ficar e enfrentar o seu destino.

Aos filhos mais velhos, Berthold e Heimeran, dá a triste notícia da morte do pai. Antevendo os interrogatórios pela Gestapo, Nina acrescenta o seguinte: “O vosso pai errou, por isso foi fuzilado”. O luto pelo falecimento do pai mistura-se com a tremenda dificuldade de entender o porquê de Claus von Stauffenberg, herói aos olhos dos filhos, ter cometido um erro tão grave.
Tal afirmação deveria proteger os filhos: ao admitir à Gestapo que o pai fora executado por culpa própria, talvez os quatro escapassem às piores represálias. Nina “ensina” outra frase aos filhos que, muito rapidamente após o atentado, corre a Alemanha: “A Providência salvou o nosso querido Führer”.
À volta de todo o desespero, há, contudo, uma boa nova: Berthold e Heimeran terão em breve um irmão (ou irmã). Vida e morte parecem fiéis companheiros nestes dias.

A situação em que Nina se encontra deve ser inimaginável: pensa e repensa sobre qual a melhor estratégia a seguir no inevitável confronto com a Gestapo. A incerteza sobre o futuro dos filhos apavora-a. Nina conhece o procedimento “habitual” do regime em relação aos filhos de adversários políticos: ou são deportados para um campo de concentração ou entregues para adopção. Nina está consciente de que o aparato nazi fará todas as diligências para exterminar a “estirpe” dos von Stauffenberg. A ideologia nazi impõe a chamada Sippenhaft, ou seja, a extinção de toda uma família de que provém o opositor ao regime. De facto, a 3 de Agosto de 1944, Heinrich Himmler, o Reichsführer da SS, viria a anunciar que “a família Stauffenberg será extinta até ao último membro.”

As horas intermináveis são abruptamente interrompidas quando, na madrugada de 23 de Julho, a Gestapo bate à porta. Nina despede-se dos seus filhos, sem saber se alguma vez voltará a vê-los.

A condessa permanece, durante oito dias, numa prisão em Rottweil, a trinta quilómetros de Lautlingen. Segue depois para Berlim, onde é detida numa prisão próxima de Alexanderplatz. As condições são “indescritíveis”, recorda Nina que, detida por motivos políticos, permanece em prisão solitária durante algumas semanas. As poucas condescendências com que pode contar devem-se à sua gravidez. Nina sai da prisão apenas para se submeter a vários interrogatórios na central da Gestapo na Prinz-Albrecht-Strasse.

A Gestapo tenta obter informações sobre outros conspiradores ou planos subversivos. Nina desempenha, de forma convincente, o papel de mulher doméstica, nunca envolvida em questões políticas. Afirma nunca ter tido conhecimento das intenções do seu marido.

Ao fim de três semanas, conclui a Gestapo que Nina em nada está relacionada com o atentado.

Mas o martírio continuaria. Sem saber o paradeiro dos seus filhos, da sua mãe e da sua sogra, Nina von Stauffenberg é deportada para o campo de concentração de Ravensbrück em finais de Agosto de 1944.

To be continued



Nota: ao referir a deportação da condessa, não tenciono de todo criar algum “suspense”, como se de um romance policial se tratasse. As circunstâncias em que a condessa se encontrava são naturalmente demasiado sérias para tal propósito. Em meu entender, seria excessivamente extenso o relato do martírio de Nina num único post.

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada pela exposição sobre a lucidez de uma mulher numa Alemanha tão cinzenta.
Aguardarei com agrado o evoluir da história.

Anónimo disse...

Viva!
Continuo, com alguma impaciência, à espera que edite a conclusão de Nina Schenk.
Vai ser de grande utilidade esta história de caso, não a conhecia. A sabedoria é algo que procuro mas, apesar de tanto caminhar,ainda falta muito para atingir o topo da montanha.

Anónimo disse...

Conheci, nos anos 60, em Angola, uma pessoa de nacionalidade alema, que se chamava Stauffenberg. Dizia-se que era um dos filhos do malogrado coronel. Suponho que tinha uma fazenda de café.