Prosimetron

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os pássaros errantes

Era nos cinzentos derradeiros dias do Outono, nos solitários arquipélagos do Sul.
Eu estava com os silenciosos pescadores, que no breve crepúsculo levantam as velas remendadas e transparentes.
Trabalhávamos calados, porque a tarde entrava em nós e na água entumecida.
Nuvens de púrpura cruzavam, como grandes peixes, sob a quilha do nosso barco.
Nuvens de púrpura vogavam por cima das nossas cabeças.
E as velas túrgidas da balandra eram como as asas de uma ave grande e tranquila que cruzara sem ruído o vermelho crepúsculo.
Eu estava com os taciturnos pescadores que vagueiam na noite e velam o sono dos mares.
No distante horizonte do Sul, lilás e brumoso, alguém avistou um bando de pássaros.
Nós íamos na direcção deles e eles vinham direitos a nós.
Quando começaram a passar sobre os nossos mastros, ouvimos as suas vozes ou vimos os seus olhos brilhantes, que, de passagem, nos lançaram um breve olhar.
Ritmicamente voavam e voavam, uns atrás dos outros, fugindo do Inverno para os mares e as terras do Norte.
[...]

Pedro Prado
In: Pedro da Silveira - Mesa de amigos: versões de poesia. Angra do Heroismo: Secret. de Estado de educação e Cultura, 1986

1 comentário:

Anónimo disse...

O texto poético é bonito!
A.R.