Prosimetron

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

PARAÍSO : 6 - Territórios

Apesar dos meses já passados na capital, Pedro ainda se surpreendia com a noite lisboeta, especialmente quando ia à "maricagem" como o Quim dizia.
Ele bem tentara que Quim fosse rodando com ele os apetecíveis Lux, Kremlin e os novos sítios em Santos, mas o outro era inflexível : " Se não queres a maricagem, vai outro lá e tu vais às discotecas dos pretos. Ou também não gostas de mulatas? ". Frase sempre acompanhada de uma prolongada gargalhada.
Assim, Pedro continuou a fornecer a "maricagem" de ecstasy, coca, ketamina e tudo o mais que fosse procurado.
E era realmente neste território nocturno lisboeta que deparava com algumas surpresas: travestis lindos e de seios opulentos com vozes mais grossas do que a do pai de Pedro,gajos com mais maquilhagem do que a sua namorada costuma usar, ou mesmo encontrar o Nelson do boxe na marmelada com outro gajo como tinha acabado de acontecer.
Obviamente, ao ver Nelson desviar o olhar, Pedro fez questão de lhe ir falar. E falaram, tendo Pedro ficado a saber que o "amigo" do Nelson era polícia. Mais complicado foi explicar o que estava ele próprio ali a fazer, já que o Nelson não era do bairro, desconhecendo pois a nova vida de Pedro.
Nelson e o "amigo" trocaram um olhar cúmplice quando Pedro disse uma das palavras mais codificadas : "curiosidade".
Na verdade, Pedro até não desgostava de fazer o circuito do Príncipe Real. A música era boa, e sentia-se como uma criança num jardim zoológico observando as várias espécies: os betos, os musculados, os emos, os góticos e uma mol indiferenciada de brasileiros. É claro que já tinha tido que dar uns empurrões em dois ou três tipos mais afoitos, mas o pior era a falta de gajas. Mesmo que fosse só para ver e fazer conversa, já que Pedro continuava a resistir aos avanços que lhe eram feitos desde logo pelas meninas da pensão, sempre prontas a oferecer "uma borla" a " um gajo novo e giro como tu ".
Ou melhor, a falta de gajas disponíveis, porque fufas havia muitas, mais e mais giras do que Pedro pensava antes de começar a frequentar estes estabelecimentos.
Se bem que o incomodavam menos as carícias entre elas trocadas do que ver cenas com gajos, ainda achava um "desperdício de bom material", como dizia o Quim, toda esta coisa da fufice.
Depois de recusar um convite para uma "cena de fumos e depois logo se vê " e ter passado pela casa de banho dos empregados como passara a fazer desde que uma noite tinha dado um soco a um turista mais atrevido na casa de banho dos homens, Pedro deu por encerrada a noite. Não sem antes dar ao porteiro o habitual "brinde", que não sabia nem lhe interessava se era para consumo próprio ou para revenda.
Tinha despachado tudo, pelo que os bolsos das calças estavam cheios de notas. Pelas suas contas, quase mil euros.
Já no Rato, pareceu-lhe ver Quim e Vladimir dentro de um carro com dois outros gajos com cara de "leste". Estava cansado e sem vontade de fazer conversa, pelo que virou a cara e seguiu no seu Smart rumo ao Marquês e à Duque de Loulé, rota habitual até casa. No dia seguinte, se se lembrasse, perguntaria a Quim o que andava ele a fazer no Rato às três da manhã.

2 comentários:

Anónimo disse...

Luís,
Estou a achar graça à sua história.
Parabéns pela ficção.
Ana

Miss Tolstoi disse...

Isto promete!