Prosimetron

Prosimetron

sábado, 5 de dezembro de 2009

A. S. : Escolhas Pessoais IX

António Nobre

Guerra Junqueiro (1850-1923) e António Nobre (1867-1900) foram os primeiros poetas que li. Se Junqueiro é, hoje, uma remota recordação no tempo, Nobre, pelo contrário, revisito-o muitas vezes. E, para tomar de empréstimo a Vitorino Nemésio algumas palavras, diria, com ele : “Queremos falar criticamente do «Só», e ele recusa-se, foge do terreno crítico como uma recordação de família que não suporta outra estima senão a do coração”.
Mas sobre a criação poética, em Nobre, tenho alguma coisa a dizer a propósito do soneto 13 (da primeira edição do “Só” ) que passou a ser o 12º na segunda edição.
De Paris, e a 2 de Fevereiro de 1891, o Poeta escreve, ao seu grande amigo Alberto de Oliveira, uma carta em que refere: “Ó Alberto! manda-me notícias! Jornais aos montes (…) crivados de pormenores, com a cópia de quantos telegramas têm nestes dias atravessado os fios de arame que eu vejo além, meu Deus! sob um lindo céu cheio de sol, atacadinhos de pardais de todo alheados do «pronunciamento», nem por isso lhe oscilando as patas – Revolução! 30 mortos! 100 feridos!... - que passam”. Esta sofreguidão de António Nobre por notícias prendia-se com os factos ocorridos com a intentona do 31 de Janeiro de 1891, no Porto, em que participara, pelo menos, um dos seus amigos: Sampaio Bruno.
Cerca de nove meses mais tarde e na passagem pela Alemanha, em Colónia (possivelmente a 10 de Novembro de 1891), esta carta vai “transformar-se” no soneto 13 da primeira edição do “Só”.
Reproduz-se este soneto através das provas para a 2ªedição, com as emendas feitas pela mão de Nobre, no seu exemplar.

Este soneto deve ter deixado, também e posteriormente, marcas de leitura num poema de Alexandre O’Neill, intitulado “A Central das frases”. O contágio de Nobre reflecte-se também, no paralelismo da doença e no agrado pelo coloquial, em alguma da poesia de Manuel Bandeira. E não só.
Como disse Vitorino Nemésio, a arte de António Nobre é portadora de grande “astúcia estética” que lhe permitiu sobreviver ao seu tempo e deixar marcas para o futuro.
Além do afecto que tenho pelo “Só”, é com imenso gosto que lembro, hoje, o seu autor e o escolho.

Post de Alberto Soares

7 comentários:

Anónimo disse...

Junqueiro foi um dos primeiros poetas que ouvi recitar. E continuo a lê-lo.
M.

MR disse...

É muito melódico.
Tenho estado para falar de edição que saiu há poucos dias, que vem acompanhada por dois discos.

APS disse...

O meu caso,e sem a mínima ironia, é seguir aquele sábio conselho:
"Não voltes aos lugares onde foste
feliz".
Não segui com Namora, por exemplo, e foi uma desilusão...

MR disse...

Há uns anos voltei a ler Namora e também o achei um bocado ultrapassado.

MR disse...

Talvez tivesse sido melhor escrever: datado.

MR disse...

Mesmo que fosse com ironia, ela casa bem com Junqueiro.

ana disse...

Gosto muito de António Nobre e do "Só". Obrigada pelo seu bonito post.
Adoro cartas de escritores, pintores, enfim, homens do pensamento e conhecimento. Gosto porque se pode entrar no seu caminho (autor) e sonhar que se vive o momento que se lê. É uma "fonte" primária pois, a biografia já é feita sob o olhar de outra pessoa.