Prosimetron

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Paixão na Poesia Portuguesa V!

Aimé Morot, Martyre de Jésus de Nazareth, 1883,
xMusée des beaux-arts de Nancy, Nancy

BARBOSA DU BOCAGE (século XVIII/XIX)

À Paixão de Jesus Cristo

O filho do grão rei, que a monarquia
tem lá nos céus e que de si procede,
hoje mudo e submisso à fúria cede
de um povo, que foi seu, que à morte o guia.

De trevas, de pavor se veste o dia,
inchado o mar o seu limite excede,
convulsa a terra por mil bocas pede
vingança de tão nova tirania.

Sacrílego mortal, que espanto ordenas,
que ignoto horror, que lúgubre aparato!...
Tu julgas teu juiz!... Teu Deus condenas!

Ah! Castigai, Senhor, o mundo ingrato;
caiam-lhe as maldições, chovam-lhe as penas,
também eu morra, que também vos mato,

(Poesias; ed. Inocêncio da Silva [sic])

António Salvado, A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa, Lisboa: Polis, p.63

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