Prosimetron

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terça-feira, 30 de março de 2010

A Paixão na Poesia Portuguesa II

Albrecht DürerChrist as the Man of Sorrows,c. 1493
x

AlbrecOil on panel, 30 x 19 cm,Staatliche Kunsthalle, Karslruhe


Gil Vicente

(Fala de Cristo)

Eis aqui subimos a Jerusalém
para tirar o vestido em que ando;
porque os açoutes me estão esperando.
Cumpra-se todo o meu mal e meu bem.
Quero ir levar
minha breve vida a quem m'há-de matar;
e assim entregar a minha cabeça
à cruel c'roa, por que ela padeça
com tanto de sangue, que quem me olhar
que não me conheça.

Quero ir levar estes meus cabelos
onde sejam feitos duzentos pedaços;
quero ir pregar estes pés e meus braços
onde os sinta, e não possa vê-los:
e o delicado
triste meu peito, que seja pisado
com couces irosos, e minhas queixadas
e dentes, quebrados com mil bofetadas.
E eu virei logo ser sepultado
em breves passadas.

(Breve Sumário da História de Deus)

António Salvado, A Paixão de Cristo na Poesia Portuguesa, Lisboa: Polis, p. 13 e 14

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