Prosimetron

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sábado, 10 de abril de 2010

Sebastião da Gama

Março, 9

O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar..." E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar..."

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?-
Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama
(10 de Abril de 1924- 7 de Fevereiro de 1952)

in Diário

2 comentários:

Jad disse...

"E reparou que os homens estavam tristes..."
Vantagem de ser poeta!

MR disse...

JMS, gosto bastante do poema que escolheu.
Já há muito tempo que não leio S. da G., que foi dos primeiros poetas que li.

DESABROCHAR

Tudo se passa,
quando a Manhã nasce na Serra,
como se uma flor abrisse
e pelo ar
o seu perfume subisse...

Sebastião da Gama
in: Itinerário paralelo. Lisboa. Ática, 1967