Prosimetron

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terça-feira, 27 de julho de 2010

A propósito de scooters - 4

A seguir à Guerra, Fernando Innocenti teve a ideia de fabricar um meio de transporte económico para a classe operária, inspirando-se nas scooters Cushman que os americanos tinham levado para Itália.
Leia mais em: http://fr.lambretta.com/





POEMA DA AUTO-ESTRADA

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa, de lambreta.

António Gedeão
In: Poesias completas. Lisboa: Sá da Costa, 1987, p. 114-115

8 comentários:

Miss Tolstoi disse...

Desconfio que ontem nem "na brasa, de lambreta" se sentia algum fresco. Mas sem "blusinha de terileno".
Nunca andei, mas tenho pena.

APS disse...

Julguei que a invenção era mesmo italiana...e o poema foi uma bela e agradável lembrança,MR.

MR disse...

APS,
Esta minha 'sabedoria' vem do site da Lambretta.
Este post já está agendado há mais de uma semana. Digo isto porque interessa ao que se segue.
Por acaso lembrei-me deste poema do Gedeão - «Vai na brasa, de lambreta» - e lá o fui procurar. Mas, domingo, quando fui ver a expo que está no MUDE, e de que falarei no final desta série, vi que o poema está transcrito no início do catálogo. Coisas!...
Infelizmente, porque agora dava-me jeito, não me lembrei nem encontrei outras poesias sobre scooters. Ainda tenho de ir ao O'Neill.

MR disse...

Miss Tolstoi, também nunca andei de mota.

MR disse...

Aqui há poucos anos, pensei em alugar uma dessas com sidecar para dar um passeio em Lisboa. O sidecar deve equilibrar.

Du Seabra Calado disse...

Eu vou ter uma! he he

Filipe Vieira Nicolau disse...

Imagens giríssimas!

LUIS BARATA disse...

Quem diria que as scooters dariam uma série tão divertida!