Prosimetron

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sábado, 18 de setembro de 2010

Guerra Junqueiro e João Penha


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(Despique, numa noite de boémia académica, na bodega do Campos da Baixa - do Homem do Gás - em Coimbra.)

PENHA:

Iam caminho de Sintra,
Montados num só jumento,
Um vate e um dandy pelintra,
Soltando canções ao vento.

Pára o burro; é como chumbo.
Diz-lhe o bardo: «Ó gâmbias podres!»
Responde o triste: «Sucumbo
Sob o peso de tais odres.»

... ... ...

Junqueiro, que vens de junco,
Tu, que és pássaro bisnau,
Não abres o bico adunco?
Pois não me sentiste o pau?

JUNQUEIRO:

O Penha borracho
Corria, cantando,
No dorso dum macho,
Mas eis senão quando
A besta o estira
Na lama da praça.
Quebrou-se-lhe a taça,
Quebrou-se-lhe a lira,
Quebrou-se-lhe tudo
E o pobre Oliveira
Só não diz asneira
Quando fica mudo.

PENHA:

Afinaste a veia chata,
Bebeste o copo dum borco,
E a cidade, estupefacta,
Ouviu o grunhir dum porco.

JUNQUEIRO:

Porco és tu, meu animal,
Porque as vermelhas canções,
Que sacas do teu bestunto,
São vermelhos salpicões,
Não são versos, são presunto.

PENHA:

Acertou-te a pedra, e de arte
Que te fiz na testa um galo,
E forcejas por vingar-te
Como se vinga um cavalo.

JUNQUEIRO:

Dou-te um conselho, Oliveira,
Como estás com muita pressa,
Vai coser a borracheira,
Meu menestral de tripeça!

... ... ...

In: Obras de Guerra Junqueiro. Porto: Lello & Irmão, s.d., p. 1043-1045

Nota: João Penha chamava-se João de Oliveira Penha Fortuna.

Para o Jad, enquanto não aparece o poema da cabra.
Um dia destes ponho um conto, adaptado por Junqueiro e que faz parte dos Contos para a infância - não dou com o livro, que inclui uma cabra.

4 comentários:

APS disse...

Ignorância absoluta,confesso. Duas pérolas!

LUIS BARATA disse...

Uma cabra fugidia! :)

Acho que é na Casa das Artes de Famalicão que está patente uma expo sobre Junqueiro.

MR disse...

Vou averiguar.

Jad disse...

Obrigado