Prosimetron

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Otto von Habsburg-Lothringen, do século XIX ao XXI





Algumas notas sobre a morte que me marcou hoje o dia, misteriosamente o de Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal.

1) Foi sem dúvida um dos melhores, se não mesmo o melhor Chefe dos Habsburgos (propriamente ditos ou já Lorenas, tanto faz). Como seria a Europa se tivesse acedido ao trono, não digo já o austro-húngaro, mas apenas a um dos da antiga monarquia danubiana?




2) Nascido no estertor do século XIX, não viu passar ao lado o século XX e antecipou aquele em que nos encontramos. A sua acção na queda da Cortina de Ferro está demasiado na sombra, apenas evocada, simbólica mas insuficientemente, pelo piquenique da Paneuropa.

3) Otto von Habsburg não precisou de nenhum trono para ser um "imperador" da Europa, não se fechando em nostalgias passadas. De algum modo o herdeiro de Carlos Magno, assumiu como missão pessoal o empenho, individual mas também familiar, material como simbólico, na construção de uma União Europeia, verdadeiramente continental. Nunca se conformou com a redução da Europa à sua metade ocidental, nem esqueceu os povos do Império que ficaram do lado errado do Muro.




4) A sua morte, nestes tempos de, este sim verdadeiramente trágico, défice de liderança europeia, suscita negros presságios, que só poderão dissipar-se com o respaldo das três colinas, Atenas, Roma e Jerusalém, resumo dos valores civilizacionais que nesta parte do Mundo se foram caldeando nos últimos três milénios.

5) Trineto de D. Maria II, pelo lado paterno, era bisneto de D. Miguel I pelo lado materno. Sempre ouvi referir o seu grande afecto por Portugal e ao quinhão do seu sangue que daqui provinha. A sua inclusão no número dos que beneficiaram de visto do Consulado em Bordéus, mais do que sentido humanitário, revestiu foros de justiça histórica.


Daqui a doze dias, será a vez do menino de caracóis, que acompanhava o caixão do seu tio-bisavô, seguir provavelmente o mesmo caminho, solicitando debalde entrada na cripta dos Capuchinhos com todos os seus títulos, finalmente implorando abrigo para um pobre pecador.



Para os crentes, é bonito pensar que hoje se terá voltado a reunir este trio de há 95 anos.


5 comentários:

APS disse...

Isto é o que se chama, meu caro JP,(embora eu respeitasse o Senhor), e por palavras de E. M. Cioran: um (verdadeiro) "assassinato por entusiasmo".

ana disse...

JP,
Deu-me prazer ler o seu texto!

Boa noite!:)

Anónimo disse...

e a caravana passa...

LUIS BARATA disse...

Gostei muito deste obituário de quem foi realmente um Grande Senhor digno de qualquer trono. Achei sempre fascinante a ligação que manteve com a Lorena dos seus distantes antepassados, sendo que ele também era muito apreciado pelos lorenos.

Filipe Vieira Nicolau disse...

Uma grande referência no panorama europeu