Prosimetron

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Nascimento último

Junto-me à homenagem de MR a Ramos Rosa.

Árvore, Hermitage, Amesterdão

Nascimento último

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.

António Ramos Rosa, No Calcanhar do Vento - 1987, in Antologia Poética
Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes

4 comentários:

Cláudia Ribeiro disse...

António Ramos Rosa, um nome, um poeta a ser sempre lembrado e lido, muito lido!

Um beijinho.:))

João Menéres disse...

Este NASCIMENTO ÚLTIMO foi um dosque li esta tarde, Cláudia !

Muito bem escolhido, Ana !
Pág. 246 da Antologia que na semana passada tinha encomendado à Cláudia.
Beijos para as duas.

ana disse...

Cláudia,
Pois é. Só tenho um livro de poesia dele de 1980. Mas tenho lido em suporte digital e na biblioteca.
Beijinho. :))

ana disse...

João,
Estávamos a escrever em simultâneo.
Boa encomenda.
Beijinho. :))