Prosimetron

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domingo, 6 de julho de 2014

Caro alocutário... espero que aprenda!

Como um dia acabaremos analfabetos
Marguerite Yourcenar disse, e eu reproduzo, que temos obrigação de morrer menos estúpidos do que nascemos. É uma máxima que tento respeitar. A semana passada, em resultado da polémica sobre o Exame Nacional de Português do 12º ano, onde, ao que parece, e vá lá saber-se como, Lídia Jorge foi confundida com Almeida Faria, fiquei menos estúpida (se bem que involuntariamente). Fiquei a saber, e cito, que "os actos ilocutórios podem ser assertivos ou compromissivos". Aprendi também que existem, cito, "actos ilocutórios directos" e, cito, "actos ilocutórios indirectos". A estes somam-se ainda, cito, "os actos locutórios e, cito, os "actos perlocutórios". Vejamos mais algumas coisas que aprendi: "o acto perlucotório corresponde aos efeitos que um dado acto ilocutório produz no alocutário". Perguntar-me-ão (ou não): O que é alocutário? Pois bem. Um alocutário é aquele a quem se destina o enunciado da fala (nos CTT chama-se a isto destinatário), por oposição ao locutor que é aquele que fala ao alocutário (...) Talvez citar a Infopédia online (Porto Editora) traga alguma aclaração ao assunto. Diz assim: " (...) o alocutário deve interpretar um enunciado tendo em conta o conteúdo proposicional do acto proferido e, também, todos os marcadores da força ilocutória presentes na situação comunicativa em que é proferido." Juro que não fui eu quem escreveu isto! Chegada aqui, senti-me catapultada, se me permitem, para um tempo antigo  (...) no qual, para recorrer às sábias palavras de Jim Hankinson, "a pouca filosofia que existia na Europa sofreu uma viragem depressivamente teológica, centrando-se em disputas tais como se Deus era Uma Pessoa em Três ou Três Pessoas Numa, (...) e quantos anjos podem dançar na cabeça de um alfinete (no caso improvável de desejarem fazê-lo)". Neste caso a viragem não foi teológica. é escatológica. Não é escolástica, é gástrica. Encomiástica. Proplástica. Toponomástica. Pleonástica. Isso! Ou nada.
Ana Cristina Leonardo, Expresso, 28 de junho de 2014

3 comentários:

MR disse...

Mas isto era o exame de português?
Só me lembro do tempo em que as crianças da primária passaram a chamar fonemas às vogais, consoantes, etc., o que anteriormente só se aprendia na faculdade. E outras patetices destas.

hmj disse...

Para JAD:
Os erros não comento, porque falam por si.
Quanto ao resto, o Ministério nunca mais aprende - ou quer - distinguir o "essencial" do "acessório". Afinal, pouco interessa aos responsáveis estimular o pensamento - com autonomia - das criaturas. No Ensino Secundário, este tipo de perguntas enquadram-se no método do "encornanço" e com os resultados que sabemos.

APS disse...

A isto se poderia chamar o neo-riquismo bacoco. Com que alguns pseudo-"cientistas" tentam criar uma ciência oculta que os possa defender do desemprego...
Não deixam de ser uns iluminados.