Prosimetron

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Pensamento ( s )



(...) Hoje, a verdadeira arte política dos governos democráticos, do poder cibernético-governamental, é a estatística. Daí, a orgia de números no discurso público que somos obrigados a atravessar, todos os dias, em todo o lado. Os centros de decisão do poder político são centros de cálculo e de tradução estatística. E o nosso horizonte está preenchido pela aritmética política, por um governo planetário dos números. A avaliação, ferramenta primeira da actual técnica gestionária, pode ser definida como um poder regulador e uma polícia científica ( a Polizeiwissenschaft era uma disciplina ensinada nas universidades alemãs desde o século XVIII ). Ela é uma racionalidade estatal. E, como mostrou Foucault nos seus seminários sobre " Segurança, Território, População ", a história da estatística entrelaça-se com a história da política : a estatística é o instrumento fundamental da organização da polícia. Ora, um estado racional - um Estado dotado dos instrumentos capazes de qualificar, medir, hierarquizar, indiciar, codificar, verificar, apreciar - requer uma ciência da polícia.

- António Guerreiro, no Público de Sexta-feira passada.