Prosimetron

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domingo, 15 de junho de 2008

Crónicas de Itália - I

Peter GreenawayL’Ultima Cena di LeonardoTive o privilégio de poder assistir à representação – o termo é mesmo esse – de um dos últimos filmes de Peter Greenaway, em exibição no Pallazo Reale, em Milão: L’Ultima Cena di Leonardo.
A acção principal (?) da representação decorre numa das paredes de uma das salas do Palácio Real, onde se encontra projectado (como se fosse pintado, a ponto do observador desprevenido chamar uma réplica) o famoso mural de Leonardo da Vinci, em tamanho natural; a sala (onde se assiste à representação) é, por sua vez, uma réplica do refeitório de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde se pode observar o original. O centro da sala encontra-se ocupado, como se realmente de um refeitório se tratasse, por uma grande mesa, preparada para uma refeição, em que se recria, até ao mais ínfimo pormenor, a mesa representada no quadro (a única diferença é que aqui tudo é, aparentemente, branco).

Aos poucos a pintura começa a ganhar forma. As cores começam a ganhar vida. Na abóbada do refeitório (sala de espectáculo) é projectada e recriada uma janela que vai iluminando o espaço como se se tratasse das janelas que projectam a luz inarrável que ilumina toda a pintura. Cada um dos pormenores da pintura toma movimento. A mesa, objecto central da sala, vai igualmente materializando-se e transformando-se com os jogos de luzes. Em todas as paredes aparecem projectadas as sombras re/criadas pela projecção da aparente luz que entra no refeitório pela falsa janela. Na parede oposta aparece, igualmente com vida, a pintura de Montorfano, a magnifica Crucificação, que a pintura de Leonardo consegue ofuscar e fazer desaparecer (como acontece quando se visita o espaço original) porque aos poucos, na representação começa a ser substituída pela ceia.
Embora o desenrolar do filme decorra num espaço tridimensional – onde o olhar do observador é constantemente desviado –, a pintura mural de messer Leonardo consegue sempre reocupar o seu lugar e nunca deixar de ser a acção principal.
Não existem palavras que consigam descrever a beleza e a sensação única de se ter assistido a esta múltipla projecção/representação que será difícil de apresentar em vídeo ou numa sala de espectáculos.
Obrigado, Peter Greenaway! Aguardo poder ver o seu prometido olhar sobre: “As Meninas” de Velasquez (Museu do Prado); “Le nozze de Cana” de Veronese (Museu do Louvre); “Guernica” de Picasso (Museu Rainha Sofia). Até lá vamos vendo a “Ronda da Noite” de que o nosso Luís já tratou.



Obrigado M. que me acompanhaste nessa viagem.

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