Prosimetron

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sábado, 13 de setembro de 2008

O confronto de duas rainhas segundo Schiller


ISABEL: Reconhecei-vos, finalmente, vencida? As vossas intrigas acabaram? Não há a caminho nenhum assassino? Nenhum aventureiro que se atreva a ser o vosso triste cavaleiro? Sim, acabou, Lady Maria. Já não encontrareis a quem seduzir. O mundo tem outros cuidados. Não há quem deseje ser o vosso ... quarto marido, pois vós matais tanto os vossos pretendentes como os vossos maridos!

MARIA: Irmã! Irmã! Meu Deus, meu Deus! Dai-me moderação!

ISABEL: Aí estão portanto, Lorde Leicester, os encantos que nenhum homem pode ver impunemente e ao lado dos quais nenhuma outra mulher deve ousar colocar-se. Em verdade ... Esta glória foi adquirida por baixo preço. Para ser a beleza reconhecida por todos, dar-se a todos é quanto basta!

MARIA: É demasiado!

ISABEL: Mostrais agora o verdadeiro rosto; até aqui foi apenas a máscara.

MARIA: Confesso as minhas faltas, da humana condição, da juventude derivadas. O poder seduziu-me, mas nunca o ocultei, nunca o dissimulei; com uma franqueza real desdenhei sempre as falsas aparências. O mundo conhece os meus erros mais graves, e posso dizer que valho mais que a minha reputação. Ai de vós se alguma vez, pelos vossos actos, for arrancado o manto da honra com que encobris hipocritamente o desenfreado ardor dos vossos prazeres secretos. Não foi honestidade que herdastes de vossa mãe; sabemos por que virtude subiu Ana Bolena ao cadafalso.

SHREWSBURY: Ó Deus do Céu! Teremos de chegar a este ponto? Será isso moderação? E submissão, Lady Maria?

MARIA: Moderação! Suportei tudo o que um ser humano pode suportar. Basta de resignação, de mansidão de cordeiro! Foge para o Céu, dolorosa paciência! Quebra finalmente os teus laços, sai da tua caverna, rancor demasiado tempo reprimido! E tu, que deste ao irritado basilisco o olhar mortífero, coloca-me na língua a envenenada seta ...

SHREWSBURY: Oh! Está fora de si! Perdoai a furiosa loucura, a profunda excitação!

LEICESTER: Não escuteis esta mulher em fúria! Vinde, vinde; deixemos este amaldiçoado lugar!

MARIA: O trono de Inglaterra está profanado por uma bastarda; o nobre povo britânico é enganado por uma astuciosa comediante. Se o direito governasse, seríeis vós quem, neste momento, estaria a meus pés, no pó, porque sou eu o vosso rei.



Maria Stuart, Acto III, Cena IV, de Friedrich Schiller; tradução de Norberto Ávila, Verbo


1 comentário:

LUIS BARATA disse...

Existem vários encontros ficcionados entre estas duas primas rainhas,incluindo o de Schiller, pois na verdade nunca se encontraram, o que não deixa de ser intrigante.
Isabel ganhou a batalha,com a morte de Maria,mas esta não terá ganho a guerra com os seus filhos e netos sentados nos dois tronos ?