Prosimetron

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sábado, 13 de setembro de 2008

Natália Correia, em permanente memória

nasceu em 15 de Setembro de 1923

Vem Espírito Santo

Partiste à luz do sol
e se quebrava a lua
em breve bater de asas
em estertor. E a sombra,
da vida o seu disfarce,
vinda da noite insone,
eterno dia, te recolheu
em seu seio maternal:
deusa de infinitude te sabia,
deusa vencendo a morte que mortal.
Em teu límpido olhar
não houve espanto. Tão só
um canto de paixão. Tão só
um canto.
E foi de amor o gesto
e de amor o mistério;
o gesto derradeiro que chamou
o Espírito Santo e o seu império.
16 de Março de 1993

João Mattos e Silva, "Marítimo Caminho", 1977

6 comentários:

Anónimo disse...

Só uma açoriana poderia fazer tão bem um poema ao Espírito Santo e ao seu império!

Aproveito para lhe agradecer o encontro com François Ozon. Já arranjei o filme 8 Mulheres. Não só é aliciante como é divinal!
Este filme só podia ser realizado por um homem. Não sei se uma mulher poderia retratar tão bem a complexidade feminina. Ao longo da história do cinema este tema foi bem explorado. No entanto, Ozon conseguiu ser inovador.

Jad disse...

Hoje em Buenos Aires recordei NC.Recordei-a enquando via algumas das casas da província de Bs As (iguais as de várias províncias de todas as Américas)... baixas e cheias de lata com anúncios. Pensei na NC e no Livro que escreveu "Sou Ibérica". Eu glosei e dizia "ainda bem que sou europeu" a minha civilização é outra. Recordei qque durante muitos anos jantava com ela neste dia... foi mais das pessoas que viajou hoje comigo, em espirito.

Anónimo disse...

Jad, desculpe a interacção. Vou explicar a minha afirmação. Vivi no Pico um ano, num tempo em que não havia telemóveis nem net. Senti o peso da insularidade. Do quarto da residencial via, de um lado, o mar (tanto mar...que me separava do continente) do outro a fumarola constante do picaroto.
O peso da natureza era esmagador, nada "à medida do homem", pude observar o culto daquela gente pelo Espírito Santo,a figura mais abstracta do panteão celeste. Fiquei maravilhada com o culto, a sensibilidade e poesia daquela gente que me acarinhou.
Choro, com saudades, a passagem pelo "canal" para ir beber um pouco do cosmopolitismo que oferecia a marina da Horta e o bar do Peter.
À NC agradeço a beleza, a garra e a irreverência que sempre a pautaram. [Desculpe a extensão do comentário]

LUIS BARATA disse...

Atenção, que o poema é do nosso João Mattos e Silva, também, segundo creio, admirador de NC.

Jad disse...

Minha/Meu cara/o anónimo: são as pequenas coisas que fazem a nossa vida grande! Julgo saber como um/uma açoriano/a compreende o culto ao Espírito Santo e como esse culto pode ser arreligioso e subnatural. A minha recordação sobre o pensamento de NC não estava relacionada com a sua afirmação, mas sim com a própria Natália e com o sentimento que ela sentia depois de andar a viajar pela América... Segundo "o mito", a Humanidade também chora ter conseguido libertar-se do Paraíso...

Anónimo disse...

Ao João de Mattos e Silva peço desculpas. Vi a Natália Correia e não reparei na assinatura.

Parabéns pela sua poesia. Vou tentar arranjar o seu livro.

Encarnou muito bem a pele de um açoriano, seguindo o meu pensamento e a origem Micaelense de Natália Correia.

Obrigada Luís Barata. (desculpem tratá-los assim).